Para quem pensa cometer um suicídio sem dor, alertamos que o suicida não o fará sem dor, muita dor.

domingo, 28 de abril de 2013

Saúde Mental - Suicídio


Saúde Mental - Suicídio


O suicídio é um grave problema de saúde pública e pode ser visto como um comportamento humano complexo, incluindo comportamentos, atitudes e cognições, cujos limites são vagos e imprecisos. Na ideação suicida, o indivíduo deseja estar morto, o que pode levá-lo a tentativa de suicídio e ao suicídio consumado.

Existe, nos dias atuais, uma preocupação cada vez maior com a relação de depressão com os riscos reais e potenciais do suicídio, pois tem-se estudado que os estados depressivos têm uma grande variedade de manifestações clínicas, que apresentam diferentes formas de desenvolvimento, e podem se relacionar a casos de suicídio.


Histórico


“O suicídio é visto como um comportamento humano complexo. Inclui muitos comportamentos, atitudes e cognições, cujos limites são vagos e imprecisos e, nas ultimas décadas, tornou-se grave problema de saúde pública”. (LOUZÃ NETO, 2007, p. 475)

O suicídio é um fenômeno presente na humanidade desde os primórdios e constitui um tema que tem gerado discussões em várias áreas do saber.

A palavra suicídio surgiu do século XVII, na Inglaterra, na obra do Inglês Sir Thomas Browne, chamada Religio Médici, publicada em 1642. Na França, em 1734, foi utilizada pelo abade francês Desfontaines, que havia visitado a Inglaterra anteriormente, para significar “o assassinato ou a morte de si mesmo”. (LOUZÃ NETO, 2007, p. 475).

Na Antiguidade Greco-romana o suicídio era tido como um ato clandestino, patológico, solitário e somente seria tolerado com a permissão da sociedade. Não havia o poder de decisão pessoal, pois o ato suicida era considerado uma forma de transgressão. Como punição, as mãos dos suicidas eram enterradas separadas e sem direito a uma sepultura e ritos funerários. (KÓVACS, 1992).

Na Idade Média, o indivíduo e a sua vida eram considerados propriedades de Deus, sendo ele castigado se tentasse se apossar da vida que não era sua. O suicídio ou ato de se matar entre os povos primitivos estava relacionado às normas do grupo, podendo ser incentivado pela comunidade - como, por exemplo, os escravos após a morte do dono, e na Índia as viúvas após a morte do marido - ou sendo uma séria infração às regras sociais. Havendo a quebra de costumes e das tradições nesta sociedade era considerado como delito grave. (KÓVACS, 1992).

De acordo com Dutra (2002) ao longo da história das civilizações, o suicídio tem sido circundado de tabus, mitos e como também preconceitos das mais diversas naturezas, principalmente os de ordem moral e religiosa. As definições teóricas e as suas causas variam, agregam-se, contestam-se, permanecendo sem uma resposta definitiva e exata a respeito de tal fenômeno

Nos dias atuais existe uma maior autonomia em relação ao suicídio, não tendo mais os castigos que existiam anteriormente. É importante contextualizar o suicídio, levando em consideração a inserção social deste ato na comunidade em que este indivíduo faz parte, pois sabe-se que existem diversas culturas, e que os valores são diferentes em várias localidades. (KÓVACS, 1992).


Falando de Suicídio


“Etimologicamente, a palavra suicídio deriva do latim e significa: sui=si mesmo e caedes=ação de matar. Entretanto, essa definição etimológica de “morte de si mesmo”, é ampla demais, não englobando todos os detalhes desse comportamento tão complexo”. (MELEIRO; WANG 1995 apud LOUZÃ NETO, 2007, p.475).

O suicídio atualmente é considerado como todo caso de morte que procede direta ou indiretamente de uma ação, positiva ou negativa, realizado pela própria pessoa, como uma expressão inequívoca implicando assim em sofrimento e  impacto profundo nos familiares. Esse fenômeno implica em sofrimento individual intenso, necessitando assim de cuidados especializados. (DURKHEIM, 1982 apud KÓVACS, 1992).

Durkheim (1982 apud KÓVACS, 1992) em seu livro “O suicídio” define o suicídio como um ato pessoal com características da sociedade que o produz, através dos valores, das normas sociais que podem influenciar o nível de interesse do indivíduo pela vida. É um homicídio com intenção de matar a si próprio e também uma ação com desespero de uma pessoa que não deseja mais viver, ou seja, esta decide por fim a sua vida e a forma que ela encontra é através do suicídio. O suicídio pode ser causado por uma insatisfação interior e profunda na qual o indivíduo no momento não está encontrando solução para seus problemas.

Esse mesmo autor classifica o suicídio em: Egoísta, Altruísta e Anômico. O suicídio egoísta procede de uma individualização excessiva. Pode ocorrer entre os indivíduos que perderam o sentido de integração com seu grupo social, não mais se encontrando sob a influência da sociedade, da família e da religião. No suicídio altruísta, o indivíduo pode se matar quando está muito integrado num grupo, ocorrendo principalmente em sociedades coletivas, onde os indivíduos suicidam-se para o bem comum, se sacrificando pela comunidade. O suicídio anômico, é observado nos indivíduos que vivem em uma sociedade em que está num momento de crise, quando lhes faltam os modelos de ordem e de uma conduta habitual.

Segundo Fukumitsu (2005 apud ODDONE, 2005 p. 166) “o suicida não procura a morte, mas a vida. O ato suicida trata-se de um derradeiro grito de confirmação da sua própria existência, embora ele aparente extremo desespero e desistência”. Segundo esta autora é importante entender o que está por trás desta tentativa, qual a mensagem que precisa ser passada e a intencionalidade pode ser consciente ou não, e nem sempre compreendido pela própria pessoa que tenta o suicídio.

É importante ressaltar a diferença ente o ato suicida e suicídio. O ato suicida “ocorre quando o indivíduo causa uma lesão a si mesmo, qualquer que seja o grau de intenção letal”. (OMS, 2000- 2001) No ato suicida a pessoa está ferindo e causando danos a si mesmo, compreendendo todas as tentativas de suicídio, e o suicídio acontece quando o ato é realmente consumado.

Toda pessoa que decide por fim a sua vida, necessariamente tem representação antecipada da própria morte, levando as pessoas a planejarem diversas vezes como deseja morrer.

Cassorla (1984) aponta que muitas pessoas apresentam comportamentos que contribuem para a redução do seu tempo de vida, como por exemplo, os fumantes de longos anos, já portadores de moléstias cardiopulmonares causadas pelo uso do tabaco, mas que devido ao vício não conseguem parar de fumar. Os alcoolistas, toxicômanos e até mesmo pessoas que ingerem alimentos prejudiciais ao organismo podem ser considerados suicidas, pois estão colaborando para causar danos à saúde, podendo chegar à morte.

Cassorla (1984) ainda afirma que indivíduos que de forma consciente ou não, optam por viver enfrentando perigos, como os que participam de corridas automobilísticas, os que realizam a roleta russa paulista, os policiais ao enfrentar perigos constantemente, o soldado voluntário que se dispõe para uma função que pode colocar a sua vida em risco também podem ser considerados suicidas.

Segundo Louzã Neto (2007, p.476) “a condição sine qua non do suicídio é a morte em que o sujeito é, ao mesmo tempo, o agente passivo e ativo, a vítima e o assassino, o desejo de morrer e ser morto e o desejo de matar”. Portanto a dificuldade de se suicidar reside na determinação da qualidade impulsiva ou voluntária da atividade suicida, ou seja, é uma decisão pessoal de cometer o suicídio. Por exemplo, quando um paciente pula de um local elevado quando ouve vozes alucinatórias, ele se torna o agente ativo e ao mesmo tempo vítima.

Botega et. al. (2006, apud VIEIRA, 2008) aponta alguns fatores de risco para o suicídio como: transtornos mentais (como por exemplo, a depressão), perdas recentes, perdas de figuras parentais na infância, dinâmica familiar conturbada, personalidade com fortes traços de impulsividade de agressividade, certas situações clínicas (como doenças crônicas incapacitantes, dolorosas, desfigurantes), acesso fácil a meios letais.

Baptista (2004) aponta outros fatores de risco para o suicídio como: isolamento social, transtorno de ansiedade ou pânico, uso de álcool ou outras drogas, estresse, problemas econômicos que causem crises financeiras, migrações, dor física intolerável e prolongada decepção amorosa.
De acordo com Pasternack (1983 apud DIAS, 1991, p.17):
Os motivos mais comuns relacionados aos desejos de suicídio são: fantasias de uma outra vida, de um paraíso, de um encontro com Deus, de outro mundo de riquezas e delícias de reencontro com pessoas queridas que morreram, de retorno ao seio materno; desejo de punição, de castigo, de destruição de impulsos assassinos ou de impulsos sexuais culposos etc.

Desta forma é importante salientar que as experiências de perda ou um luto mal resolvido podem ser fatores que desencadeiem a tentativa de suicídio.


Estudo do Comportamento Suicida


Mann e Arango (1992 apud BAPTISTA, 2004) ressaltam que o comportamento suicida abarca a ideação suicida, as tentativas frustradas e também a efetivação do suicídio.

Portanto a ideação pode ser passiva, abrangendo pensamentos ou desejo de estar morto, ou ativa se os pensamentos comprometerem os métodos ou o momento de se matar. As tentativas e o suicídio com sucesso estão ligados a comportamentos impulsivos e agressivos, como também a comportamentos de automutilação.

Existem também as hipóteses neuroquímicas que relacionam os sistemas serotonérgico, noradrenérgico e dopaminérgico de neurotransmissão ao comportamento suicida, porém com manipulações farmacológicas ou comportamentais as atividades desses sistemas podem ser equilibradas,  pois encontram-se em baixa concentração no organismo.

Assim como a depressão, o comportamento suicida vem sendo considerado um sério problema de Saúde Pública, despertando interesse de pesquisadores no campo das mais diferentes ciências. (FEIJÓ, 1998).

Segundo Jamison (2002 apud SEGAL, 2009 p.17):
O comportamento suicida é um ato saturado de ambivalência. Mesmo já havendo definições sobre os fatores de risco e proteção do suicídio, estes ainda se encontram insuficientes na prevenção e no tratamento do problema.

Segundo Berman; Farberon apud Maris (2002 apud BAPTISTA, 2004) alguns comportamentos destrutivos podem aumentar a probabilidade de autolesão, como o jogo patológico, esportes de risco ou radicais, sexo desprotegido com diversos parceiros, entre outros.

De acordo com a OMS (2000-2001 apud WERLANG, 2004) vários são os fatores de proteção para o suicídio como: o apoio e a confiança nos membros da família, buscar ajuda e conselhos, ter senso de valor pessoal, boa relação com amigos e colegas, valores culturais, lazer, praticar esporte entre outros.

O comportamento suicida pode se relacionar a fatores de risco como a desesperança, o abuso de álcool e drogas, o neuroticismo. Os traços de personalidade são importantes no estudo do risco de suicídio, como humor instável, comportamento anti-social, dificuldade de aceitar a realidade, baixa tolerância a frustração.

“A noção mais global de comportamento suicida evita a tendência de se valorizar, exageradamente, a intencionalidade e a lucidez de consciência durante o ato suicida”. (BOTEGA, 2006, p. 431) A pessoa com comportamento suicida possui uma visão negativa da vida, crêem que não há mais solução para seus problemas, ou que a vida não tem mais sentido.

É importante se pensar na prevenção do comportamento suicida, pois isso não pressupõe apenas evitar a morte das pessoas e sim alertar as implicações que o suicídio desencadeia na sociedade, como o mal estar e estado de perturbação que é gerado nesta. Assim acredita-se que com a prevenção possa ser oferecido ao indivíduo possibilidades de enfrentar as dificuldades que levam ao comportamento suicida. Com a prevenção do comportamento suicida visa-se aspectos como promover a qualidade de vida, criar estratégias de comunicação e sensibilização relacionada a este fenômeno. (BOTEGA et. al, 2006).


Relação da Depressão com o Suicídio


“Assim como a depressão, o suicídio vem sendo considerado como um sério problema de Saúde Pública, despertando interesse de pesquisadores no campo das mais diferentes ciências”. (VIEIRA, 2008, p. 1).

Entende-se que a relação do suicídio e da depressão é estreita, pois o suicídio atualmente é considerado um sintoma ou exclusivamente uma conseqüência da depressão. (VIEIRA, 2008).

Conforme Nierenberg, Stephen; Grandin (2001 apud BAPTISTA, 2004, p.8) apontam que “muitas pessoas que apresentam transtornos de humor, principalmente depressão maior e transtorno bipolar, podem pensar se matar, ainda que decidam viver na última hora além do que muitas pessoas que se suicidam sofrem de transtornos do humor e, de diversas formas, estas mortes poderiam ser prevenidas.

Malone (2000 apud BAPTISTA, 2004) afirmou que pessoas depressivas que tentaram suicídio relatam maior desesperança e ideação suicida do que depressivos que nunca tentaram suicídio.

Para as pessoas que tem depressão, pensamentos de morte e pensamentos suicidas podem ser freqüentes em suas vidas, devido a isso elas podem planejar o suicídio, tentar ou até cometer o ato.

De acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2006 apud VIEIRA, 2008) é importante estar atento a alguns sinais que compõem a história de vida e o comportamento das pessoas que possam ter risco para o comportamento suicida como: cartas de despedida, doença física crônica, menção repetida de morte ou suicídio, desejo súbito de concluir os afazeres pessoais como organizar documentos e escrever um testamento, ansiedade ou pânico, mudança de personalidade.

Como afirma Lewinsohn, Rohde e Seeley (1994 apud BAPTISTA, 2004) um preditor de uma posterior tentativa de suicídio é já ter tentado suicídio anteriormente.

De Man; Leduc (1995 apud BAPTISTA, 2004) relacionam a ideação suicida com baixa auto-estima, depressão, estresse, percepção de saúde, uso de drogas, baixo status familiar, performance acadêmica ineficiente, suporte social inadequado.

Portanto vários fatores necessitam ser trabalhados juntamente ao paciente depressivo. Como por exemplo, a família que está completamente envolvida no processo de adoecimento, levando em consideração a dinâmica familiar, e os estresses relacionados a ela.

De acordo com Louzã Neto (2007, p. 230):
Os períodos de mudança de humor, como início ou fim de um episódio depressivo, constituem risco, assim como a associação de sintomas (em geral mistos), por exemplo, irritabilidade, abuso de drogas, e prolongada fase depressiva em paciente bipolar representa combinação particularmente letal. A presença de evento de vida estressante antecedendo tentativa de suicídio foi comum em doentes unipolares e bipolares, apesar de ter se associado mais aos doentes bipolares.

Há risco de suicídio em pacientes depressivos, principalmente quando se tem um maior tempo de evolução e gravidade no quadro e também com relação à maior freqüência de sintomas residuais encontrados nestes pacientes, como humor deprimido, perda de interesse ou prazer em realizar atividades.

Segundo Ballone (2003 apud VIEIRA 2008, p.3):
Os sintomas depressivos mais associados ao suicídio dizem respeito ao severo prejuízo da auto-estima, aos sentimentos de desesperança e à incapacidade de enfrentar e resolver problemas. Esses sintomas podem não estar presentes no início do quadro, mas à medida que a depressão vai se tornando mais grave, a baixa da auto-estima vai piorando, vão surgindo sentimentos de inutilidade e, progressivamente, o indivíduo vai ficando mais desesperado.

Atualmente, os fenômenos do suicídio e da depressão estão mais presentes nos espaços sociais, quebrando algumas barreiras como o sexo, idade, classe econômica ou cultural, sendo todos problemas de saúde pública. A depressão gera um sofrimento psíquico interferindo na qualidade de vida do indivíduo que é diminuída. (VIEIRA, 2008).

Conforme Coutinho (2005 apud VIEIRA 2008, p.67) afirma que:
Identificar as representações sociais acerca da depressão e do suicídio é compreender as formas que as pessoas utilizam para criar, transformar e interpretar essas problemáticas vinculadas à sua realidade. Como também conhecer seus pensamentos, sentimentos, percepções e experiências de vida compartilhadas, destacadas nas modalidades diferenciadas de comunicação, de acordo com o contexto cultural e a classe social a que pertencem, e as instituições às quais se está vinculado, prolongam-se para além das dimensões, intrapsíquicas e concretizando-se em fenômenos sociais palpáveis de serem identificados e mapeados.

É importante entender as representações sociais do ser humano, saber como o paciente constrói saberes acerca de determinadas circunstâncias, estando incluídos neste contexto a depressão e o suicídio.

Segundo Brasil (2006 apud VIEIRA, 2008) que existem quatro sentimentos que indicam o risco para a consumação e a tentativa de suicídio que são: depressão, desesperança, desamparo e desespero.

De acordo com Vieira (2008) não existe uma patologia ou algum acontecimento que possa prever o suicídio, e sim há certas fragilidades que indicam que algumas pessoas estão mais vulneráveis a cometer esse ato do que outras. Nesse contexto a depressão é destacada como um fator de risco para o comportamento suicida. O transtorno depressivo é destacado entre as doenças vulneráveis ao suicídio e de acordo com a OMS (2000 apud Vieira 2008) esta é causadora de 30% da ocorrência de suicídio no mundo.

Segundo Lönnqvist, (2000 apud BOTEGA, 2006, p.217):
A associação entre depressão e suicídio é inequívoca. O risco de suicídio aumenta mais de 20 vezes em indivíduos com episódio de depressão maior, e é ainda maior em sujeitos com comorbidade com outros transtornos com outros transtornos psiquiátricos ou doenças clínicas.

De acordo com alguns dados da autópsia psicológica a metade dos indivíduos que morreram por suicídio estava sofrendo de depressão, mesmo considerando os indivíduos com outros transtornos mentais, a sintomatologia depressiva era central. (BOTEGA, 2006)

Segundo Sadock (2007, p. 975) “mais pessoas com transtornos depressivos cometem suicídio no começo da doença do que mais tarde”. A depressão está associada tanto ao suicídio consumado como às tentativas de suicídio e o aspecto clínico associado com mais freqüência à gravidade da intenção de morrer é um diagnóstico de um transtorno depressivo.

Ainda citando este autor, os transtornos de humor estão dentre os diagnósticos mais comuns associados ao suicídio, pois os pacientes sentem-se deprimidos, tristes, instáveis de tempos e tempos, quando estes sentimentos persistem interfere na vida do paciente O isolamento social entre pacientes depressivos aumenta as tendências suicidas.


Referências:


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BAPTISTA, M. N. Suicídio e depressão: atualizações. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
BOTEGA et al. Prevenção do comportamento suicida. Psico, 37, Porto Alegre (2006). Disponível em:http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/viewFile/1442/1130. Acesso em: 20 Jan. 2010.
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http://www.cursosaprendiz.com.br/artigo/19/saude-mental-suicidio

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Suicídio, modo de evitar


Folha de São Paulo - FERNANDO TADEU MORAES

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Prevista para este ano, a inclusão de uma categoria de comportamentos suicidas no novo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o chamado DSM 5, referência na área de saúde mental em todo o mundo, pode ajudar os médicos a quantificar melhor esse fenômeno, em especial as tentativas, cujas taxas podem ser 40 vezes mais altas do que as dos suicídios consumados.

Essa é a opinião do psiquiatra José Manoel Bertolote, que acaba de lançar "O Suicídio e sua Prevenção" [Unesp, 142 págs., R$ 18]. Ele afirma, em entrevista à Folha, que a depressão, o alcoolismo e a esquizofrenia são as três principais causas por trás das mortes autoinflingidas.

Estima-se hoje em 1 milhão o número anual de mortes por suicídio em todo o mundo. Isso o coloca como uma das "três principais causa de óbitos em determinadas faixas etárias de vários países e em várias regiões do globo", escreve Bertolote. No livro, o psiquiatra traça um histórico sobre o tema a respeito do qual já se debruçaram teólogos, juristas, filósofos, sociólogos entre outros, e analisa, sob o prisma da saúde pública, suas causas no Brasil e no mundo.

Bertolote, 65, trabalhou por quase 20 anos na OMS (Organização Mundial da Saúde), onde chefiou a equipe de transtornos mentais e neurológicos. Uma de suas atribuições nesse período era auxiliar países a elaborar políticas de prevenção de suicídio. Hoje, ele é professor voluntário na Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu, na qual se formou em 1971.

Durante a entrevista, Bertolote fez um pedido: gostaria que fosse incluído neste texto o número do telefone do Centro de Valorização da Vida, o CVV: 141.

*

Folha - Como o sr. vê a inclusão da categoria de comportamentos suicidas no novo manual de psiquiatria?
José Manoel Bertolote - Vejo com bons olhos. Hoje há boas estatísticas de mortes por suicídio para cerca de dois terços do mundo, mas não há um registro centralizado de tentativas de suicídio. Se uma pessoa ingere um veneno e vai parar no pronto-socorro, o caso é registrado como intoxicação; se ela corta os pulsos, lesão cortante. A intencionalidade acaba nunca sendo registrada.

A inclusão de uma categoria de comportamento suicida é bem-vinda, pois vai permitir dar uma visão melhor desse quadro. Estudos mostram que a taxa de tentativa de suicídios chega a ser 40 vezes mais alta que a taxa de suicídios consumados.

Como o suicídio se tornou um assunto da medicina?

Até cerca de três séculos atrás, o suicídio era basicamente um problema teológico. O catolicismo considerava o suicídio um pecado grave, o islamismo considera até hoje o pior pecado, pois é a destruição da obra divina. Havia também o interesse de filósofos e, na Inglaterra e em vários outros países, o suicídio era considerado uma morte indigna. O direito o tratava como um crime contra o Estado.

Foi a partir dos séculos 17 e 18 que médicos passaram a se interessar pela questão do suicídio e a considerar que o suicídio tinha uma relação estreita com a saúde, porque eles julgavam que todo suicídio era um ato de loucura. E isso foi ganhando adesão com o tempo. No século 20, consolidou-se a ideia de que o suicídio é um problema de saúde e, sobretudo, de saúde pública.

Há relação entre suicídio e doença?

O suicídio, em primeiro lugar, não é uma doença. Na perspectiva da saúde pública, é um fenômeno social de distribuição irregular na sociedade. Mas há estudos em todo o mundo que mostram que, por trás de grande parte das mortes por suicídio, existem doenças.

A maioria dessas doenças são mentais, mas há também uma grande associação entre suicídio e doenças incuráveis e dolorosas. A mortalidade de portadores de HIV por suicídio, por exemplo, caiu muito depois do advento do coquetel de drogas, quando ela deixou de ser essa doença mortal. As doenças mais associadas ao suicídio são a depressão, o alcoolismo e, um pouco atrás, a esquizofrenia.

Quais são os limites da prevenção do suicídio?

Não acredito que o suicídio possa ser erradicado, pois é um fenômeno humano que existe desde sempre. Há, por exemplo, uma porcentagem de suicídios por trás da qual, por mais se investigue, não se encontra uma doença ou causa clara.

Durkheim, em sua tipologia de suicídios, fala do suicídio altruísta [situação em que um indivíduo está tão conectado a sua comunidade, que abdica de sua individualidade, acreditando que sua morte pode trazer benefícios para a sociedade]. Como é que se vai prevenir isso? Não há o menor sentido. Não é disso que a prevenção do suicídio se ocupa. A prevenção se ocupa dos casos considerados evitáveis, porque decorrentes de um fator que poderia ser removido [como o alcoolismo].

Um dado importante e comprovado é que a maioria das pessoas que tentam o suicídio não quer morrer. São pessoas que querem mudar uma situação, escapar de um problema e, às vezes, a situação é tão tantalizante que a pessoa não enxerga outra saída. Há estudos com pessoas que fizeram uma tentativa de suicídio por um método muito letal e estão próximas de morrer. Elas são entrevistadas nesse momento. A imensa maioria fica desesperada quando percebe que vai morrer e que é irreversível.

A mídia deveria ter um papel nessa prevenção?

A mídia tem um grande papel na prevenção do suicídio. Há um mito de que não se pode tocar no assunto nos jornais. A imprensa pode ajudar ou atrapalhar de acordo com a forma que trata o assunto. Abordar o tema com sensacionalismo, promovendo o ato, explicando métodos etc. só atrapalha, já que sempre existe, em toda população, um certo número de indivíduos suscetíveis. Agora, abordar de uma maneira potencialmente educativa ajuda, sem dúvida.

O que o sr. acha de grupos como CVV e Samaritans [fundação inglesa aberta em 1953 dedicada à prevenção do suicídio]?

Eu já trabalhei com CVVs e Samaritans de vários países do mundo e tenho muita admiração pelo trabalho deles. Um ponto importante a ressaltar é que eles não fazem só a prevenção do suicídio; seu grande mérito é auxiliar uma pessoa em crise. Eles conseguem solucionar uma crise que talvez hoje não fosse suicida, mas que, pela falta de perspectiva, poderia evoluir para uma crise suicida. Penso que eles deveriam ser estimulados pelas autoridades sanitárias.

Como é o suicídio entre as populações indígenas?

As taxas de suicídios em populações indígenas são as mais altas em qualquer país do mundo, segundo estudos. Isso se explica com fatores sociológicos. Em geral populações indígenas são marginalizadas, pobres. Além disso, cada vez mais se identifica nessas populações indígenas o álcool como um fator desagregador, desestabilizador, causando conflitos e levando ao suicídio.

O álcool que havia em populações tradicionais indígenas brasileiras era o cauim, uma bebida de rituais, com baixo teor alcoólico; aí, de repente, eles pegam a cachaça, que tem um teor alcoólico altíssimo. E isso se agrava, pois as populações indígenas da América são de origem asiática, e é muito comum entre os asiáticos uma alteração genética que dificulta o metabolismo do álcool. Juntando todos os fatores, temos uma situação muito trágica numa população pequena de índios.

Pode-se falar de um luto diferente para os parentes de um suicida?

O luto de uma perda inesperada, sobretudo por uma forma inaceitável, é um luto mais complicado que o luto "normal". O suicídio sempre desperta nos que ficam no mínimo dois sentimentos: culpa e raiva. Isso causa um mal-estar tão grande que chega a ser um fator de risco de suicídio. São relativamente comuns suicídios em famílias em que um membro acaba de se suicidar.

Há um importante movimento internacional de sobreviventes, chamado Survivors, fundado por um casal americano que perdeu sua única filha pelo suicídio. Eles se aproximam de famílias em luto para conversar, compartilhar experiências. O resultado é o desenvolvimento de uma solidariedade intragrupal e o sentimento de solidariedade e responsabilidade pelos outros.

Entre 1980 e 2008 a taxa de suicídios de homens brasileiros quase dobrou. Quais são as possíveis explicações para isso?

Foi um aumento muito localizado, em jovens de 16 a 25 anos. O que vou dizer agora é mais uma impressão do que uma afirmação científica. Duas coisas que afetam particularmente esse grupo aconteceram nesse período: por um lado, houve uma explosão do número de usuários de drogas; por outro, houve a reforma psiquiátrica que fechou radicalmente o número de leitos psiquiátricos. Esses leitos foram fechados no momento em que o aumento dos usuários de drogas pedia um número maior. A sociedade nesse período também se tornou mais violenta. Na mesma época, houve aumento do número de homicídios, especialmente entre os jovens.

O que se sabe sobre as bases genéticas do suicídio?

Essa é uma área pobre de resultados. Eu, particularmente, acho muito improvável que alguém encontre o gene do suicídio. O que se sabe é que existem genes da violência. Nos indivíduos com alto risco de violência, isso pode se expressar como um suicídio dramático ou como um homicídio. Casos de pessoas que pegam uma arma, matam vários e depois se matam certamente envolvem pessoas extremamente violentas.

Uma grande dificuldade é que grande parte dos estudos genéticos é feito com gêmeos. Suicídio é um evento relativamente raro; encontrar gêmeos não é tão comum; e encontrar gêmeos nos quais um se matou e outro não é mais difícil ainda, o que torna as análises estatísticas muito pobres. O suicídio é uma coisa muito mais complexa do que pode ser expressada por um gene.

Como o sr. vê o direito ao suicídio?

Eu sou um pouco antiquado, acredito no juramento de Hipócrates, que diz que a tarefa principal do médico é preservar a vida. Claro que existem limites nos quais a preservação da vida não tem mais sentido. Filosoficamente, eu consigo entender alguém que, em plena posse de suas faculdades mentais, queira se matar; medicamente eu não tenho meios de justificar isso.

Vejo o direito ao suicídio com ressalvas, mas sempre fica a pergunta incômoda: quem sou eu para dizer a alguém aparentemente consciente dos seus atos e que quer se matar que ele não deveria fazer isso?

L., de 61 anos, é um exemplo de quem teve de recorrer à rede pública. Em tratamento há dois anos e meio, ele conta que passou a beber quando era adolescente, mas foi aos 50 anos que percebeu que a situação estava fora de controle. “Começava às 8 horas e continuava ao longo do dia.”

L. faz artesanato em madeira com a mulher, mas a renda dos dois não chega a dois salários mínimos. “A falta de perspectivas financeiras piora a situação. Problemas com dinheiro me estimulam a beber”, diz.

Para o médico Vilmar Ezequiel dos Santos, gerente do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Santana, é preciso compreender o consumo do álcool em cada uma das classes sociais. “A forma de consumir, o valor que se dá ao consumo e o desfecho do problema em cada uma das camadas da sociedade são diversos.” Embora tenha havido mudanças, Santos destaca que nas classes D e E o álcool é socialmente mais aceitável.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil tem 329 Caps, com capacidade para realizar 7,8 milhões de atendimentos ao ano. De 2011 para 2012, os procedimentos aumentaram 25,8%.



Laranjeira diz que os resultados do estudo evidenciam o quanto as pessoas mais pobres sofrem com a ausência de uma estratégia efetiva do governo para a prevenção do abuso de álcool. “Essa política é acovardada”, constata. “A única mensagem que ouvimos é a de não associar direção e bebida. Todos, incluindo o Ministério da Saúde, ficam cheios de dedos para colocar em prática ações mais agressivas.” / MÔNICA REOLOM