Para quem pensa cometer um suicídio sem dor, alertamos que o suicida não o fará sem dor, muita dor.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

E a morte por suicídio?


Doloroso equívoco cometem aqueles cuja decisão final é o apelo ao suicídio, como medida extrema para solucionarem problemas aflitivos, psicológicos, emocionais, conscienciais e existenciais.
A maior surpresa é a de que a vida não se extingue com a morte do corpo físico.
Doloroso e grave engano, porque o suicida se vê muitas vezes jungido aos despojos cadavéricos, por tempo indeterminado, através dos laços bioenergéticos que ligam o perispírito ao respectivo corpo físico em decomposição.
As sensações e emoções experimentadas pelo suicida variam de caso para caso.
Há, entretanto, algo em comum, ou seja, a constatação de que a vida consciencial é indestrutível e que ninguém burla suas leis sem assumir pesados compromissos cármicos a impor a indispensável reparação compulsória, por ter rompido, prematuramente, os elos de ligação psicobiofísica que permitiram a manutenção da vida no plano físico por uma cota de tempo compatível com as necessidades específicas de auto-realização espiritual de cada um, através do cumprimento de um plano de realizações existenciais educativo, visando à plena harmonização consciencial com as leis da vida, e na execução de projetos específicos de aprendizagens provacionais, sacrificiais, missionárias ou de resgate inadiáveis, tendo em vista a necessidade moral de construir a própria redenção.
Os relatos mediúnicos contendo informações sobre a situação do suicida após o ato cometido são unanimes em afirmar o estado de dolorosa penúria do espírito, o qual se vê num processo psicodinamico e bioenergético de recapitulação compulsiva das ações desencadeadas em decorrência do suicídio, gerando um profundo sentimento de remorso, dor e sofrimento inomináveis.
Este estado de verdadeira psicose alucinatória assume características dantescas, dramáticas e traumáticas, e na maioria dos casos o suicida sente-se mais vivo e sensível aos embates da decomposição cadavérica do próprio corpo físico.
Ora se vê no local onde o ato se consumou, ora se vê autopsiado e ao mesmo tempo preso ao túmulo, onde jazem os restos mortais sepultados.
Neste verdadeiro inferno consciencial se debate por tempo indeterminado, podendo durar dias a fio, meses ou anos até que, pela dor e sofrimento, possa despertar mais lúcido para compreender melhor o equívoco cometido. Para tanto, o remorso e o arrependimento são etapas inerentes ao despertar consciencial, seguidas de uma necessidade moral profunda de se redimir perante a própria consciência e às Leis de Deus.
Durante todo este tempo não fica abandonado pela misericordiosa assistência espiritual dos espíritos socorristas e familiares em condições de ajudar, bem como de amigos e protetores, que, amorosamente, prestam o socorro necessário, sem entretanto violar o código ético da vida.
Após esta fase crucial, à medida que for apresentando sinais de melhor receptividade e lucidez, é submetido a um complexo tratamento magnético-espiritual específico, em clinicas altamente especializadas, encarregadas de dar atendimento psicoterápico e sonoterápico, objetivando a plena recuperação do suicida.
Geralmente, a morte por suicídio produz marcas profundas no perispírito, e elas poderão determinar lesões nos respectivos centros vitais e demais órgãos perispíriticos, que irão repercutir na embriogênese e organogênese de um novo corpo físico em uma próxima e futura reencarnação.
Em conseqüência, nas futuras reencarnações o suicida poderá apresentar malformações congênitas ou doenças hereditárias irreversíveis, na maioria dos casos, renascendo em situações de excepcionalidade, exigindo muito amor e dedicação dos pais e familiares, médicos e enfermeiros, e tratamento em clínicas especializadas.
Não se deve, nestes casos, pensar em castigos ou punições divinas, mas tão-somente no cumprimento da Lei do Carma genético.
Através destas limitações morfogenéticas a curto, médio ou longo prazo, o suicida de ontem renasce em um novo corpo físico, com disfunções congênitas reversíveis ou irreversíveis, como decorrência natural das lesões registradas na memória genética perispíritica que servirão de matrizes indutoras a influenciar negativamente durante a gestação, na organogênese e morfogênese, do novo corpo físico, determinando malformações congênitas ou doenças hereditárias, correspondentes às lesões perispíriticas causadas por traumatismos, em decorrência do suicídio cometido em vidas anteriores.
A título de esclarecimento, há também casos de suicídio indireto, no qual a pessoa não tem a deliberação plena de cometer o suicídio propriamente dito, mas, pelo tipo de vida que leva, sem maiores compromissos com a saúde física e mental, expondo-se a situações de risco por imprudência, ou praticando excessos de toda a natureza, poderá morrer prematuramente, sendo, portanto, considerado também um caso de suicídio indireto.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Suicídio: como o apoio emocional pode salvar uma vida


A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, nos últimos 45 anos, a taxa de suicídio cresceu 60% no mundo. Isso significa que, a cada ano, um milhão de pessoas tiram a própria vida – uma taxa de mortalidade de 16 por 100 mil habitantes, ou o mesmo que uma morte a cada 40 segundos. A notícia fica ainda pior por conta da expectativa de que esse número dobre até 2020.
Segundo dados da OMS, ao longo da vida, 17,1% dos brasileiros “pensaram seriamente em por fim à vida”, 4,8% chegaram a elaborar um plano para tanto, e 2,8% efetivamente tentaram o suicídio.
O Brasil apresenta menos de 6,5 suicídios para cada 100 mil habitantes, um número considerado baixo quando comparado com os 13 suicídios por 100 mil habitantes dos países que mais cometem suicídio (a taxa de alguns países do leste europeu).
A média brasileira é de 25 suicídios por dia, número só inferior ao de mortes no trânsito e homicídios. Vale lembrar que o número real de suicídios pode ser bem maior, visto que muitas vezes estes casos são relatados como mortes acidentais.
Problema gritante
Esses dados assustadores vêm acompanhados de um pedido da OMS para que os governos tratem esse problema de forma urgente.
Se o número de suicídios é alto, o número de tentativas é 20 vezes maior: 5% da população mundial vai tentar tirar a própria vida pelo menos uma vez durante sua existência. Isso torna o suicídio a maior causa de mortes evitáveis no mundo, matando mais que os homicídios e as guerras (somados).
A situação também é mais comum em países mais pobres, que também são os países menos preparados para prevenir o suicídio. Isso não significa que não tenha gente engajada em melhorar a qualidade de vida dos suicidas.
Valorizar a vida
O CVV (Centro de Valorização da Vida), por exemplo, é uma das organizações não governamentais (ONG) mais antigas do Brasil. Essa instituição, fundada em 1962, se baseia essencialmente no trabalho voluntário de milhares de pessoas distribuídas por todas as regiões do Brasil.
Pode-se dizer que o CVV é uma ONG de sucesso. Seu trabalho é muito bem reconhecido. A entidade é associada ao Befrienders Worldwide, que congrega instituições de apoio emocional e prevenção do suicídio em todo o mundo, e em 2004 e 2005 fez parte do Grupo de Trabalho do Ministério da Saúde para definição da Estratégia Nacional para Prevenção do Suicídio.
A missão do CVV, como seu nome sugere, é valorizar a vida. Sua principal iniciativa é o Programa de Apoio Emocional realizado por telefone, chat, e-mail, VoIP, correspondência ou pessoalmente.
“Oferecemos apoio emocional, com o objetivo de valorizar a vida de todas as pessoas, prevenindo, assim, que estas pensem em tirar suas próprias vidas”, conta Adriana Rizzo, voluntária do CVV, que também faz parte da equipe de divulgação da ONG.
O atendimento é gratuito e funciona 24 horas na maioria das cidades em que há um posto CVV. As pessoas podem conversar sobre todos os assuntos que considerarem importantes pra elas.
Agora fica a pergunta: será que isso funciona? Será que entidades como o CVV são capazes de ajudar na luta contra o suicídio?
Os 2.200 voluntários e 73 postos de atendimento no Brasil todo, e os mais de um milhão de contatos por ano registrados nos últimos 6 anos provam que sim.
Como o serviço é anônimo, o CVV não tem identificador de chamada e os voluntários não pedem dados pessoais dos que buscam ajuda, é difícil colocar em números quantas vidas foram salvas pelo programa. Mas que muitas já foram, não há dúvida.
“Algumas pessoas que buscam nosso atendimento voltam a nos procurar para agradecer, mas isto não é esperado nem exigido por nós. Em época de fim de ano, elas nos procuram para agradecer e desejar um feliz natal, feliz ano novo”, diz Rizzo.
Laços sociais
No quê o programa da CVV se baseia? Rizzo explica que o trabalho da ONG é eficaz porque se baseia em uma necessidade humana básica, que é a de se comunicar. “Sabemos que quando alguém não se comunica com outras pessoas, não tem esta oportunidade, os acontecimentos do dia a dia vão se acumulando e por vezes isto pode levar ao isolamento, depressão e pensamentos suicidas”, afirma.
A voluntária acredita que conversando e compartilhando suas dores e alegrias, as pessoas se sentem compreendidas, melhores e mais leves para continuar a viver.
Esse “senso comum”, aliás, tem base científica. A ciência está cheia de exemplos de situações nas quais os laços sociais desempenharam um fator muito importante na saúde e bem-estar físico e mental das pessoas.
Por exemplo, um estudo mostrou que pessoas com círculo social limitado (poucos amigos íntimos) tornam ou veem seus problemas maiores do que realmente são. Outra pesquisa sugeriu que relações sociais são tão importantes para a saúde como outros fatores de risco comuns, como tabaco, exercício físico e obesidade.
Já outros tipos de estudo fizeram associações entre a família e amigos e como isso ajudou as pessoas a superarem problemas. O suporte de um amigo, por exemplo, pode ajudar alguém a perder peso. O apoio da família é capaz de ajudar uma adolescente anoréxica a se recuperar melhor e mais rapidamente. Uma família amorosa pode ser fundamental para o bom desenvolvimento cerebral de uma criança no início da vida, assim como ser sociável na infância leva a felicidade na vida adulta.
Esses são só alguns exemplos de como a comunicação, o apoio e os laços sociais são importantes para nos manter saudáveis. O CVV pode não estar fazendo ciência de propósito, mas com certeza está colaborando para a vida humana.
Voluntariando
Achou o serviço interessante? Gostaria de se voluntariar? Os voluntários da CVV são pessoas comuns, com mais de 18 anos, que não precisam ter nenhuma formação especial, apenas vontade de ajudar alguém.
Se quiser entrar para o programa, basta participar de um curso gratuito para seleção de voluntários que acontece em todos os postos de atendimento do Brasil, várias vezes ao ano. Veja os endereços dos postos.
Se você precisa de ajuda, escolha a forma de comunicação que mais lhe agrada e entre em contato com a ONG. Você será atendido por um voluntário com o maior respeito e anonimato. Eles não estão lá para lhe aconselhar ou julgar, mas sim para lhe ouvir.
Os voluntários são devidamente treinados para conversar com qualquer pessoa que procure ajuda e apoio emocional e guardarão estrito sigilo sobre tudo que for dito, independente do meio selecionado.
Quer mais informações? Acesse o site da CVV, ou siga a instituição no Facebook ou Twitter.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

“Quase Viúva” (*)


“Quase Viúva” (*)



http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2012/05/drogas-quase-viuva.html





“Os outros deram do que tinham em abundância: porém esta deu, com indulgência, do que lhe faria falta."
O Óbulo da Viuva
ESE, Cap XII, 5., Marcos, XII; Lucas XXI.





Fatores biológicos ou psicológicos podem impulsionar pré-adolescentes e jovens para a beira do precipício. No entanto, esses impulsos são liberados ou bloqueados através da influência social. O que dá legitimidade às interdições sociais são os laços afetivos familiares (1).

No fundo do precipício do suicídio há muito sofrimento, também para os que ficam. Parentes terão que perdoar e abundar em indulgência. Trabalhar pela prevenção é iniciativa feliz.

Carmélio Marques Lima atirou-se da ponte do Rio Itapecuru, Rosário, Maranhão, janeiro 1999, após o 4º dia ininterrupto usando álcool e outras drogas!

No dia, 29 de abril de 2012, Reinaldo Lima, o pai, foi fotografar nova paisagem na ponte para mudar o visual do seu Blog, criado, com lucidez, para fomentar a implantação da política: Educação Familiar, objetivando ser instrumento de prevenção ao uso e abuso de drogas. Como Reinaldo formulou a proposta?

Iniciou fazendo o estudo de Gottman, PhD. Inteligência Emocional e a arte de educar nossos filhos. RJ 10ª Ed., Editora Objetiva, 1.997. Pesquisa realizada em Illinois, USA, l986. (2)

Em seguida, o estudo de “Quem Ama Educa!” Içami Tiba, São Paulo, 83ª., Editora Gente, 2002, comparando-o com Gottman, PhD. Inteligência Emocional e a arte de educar nossos filhos. Depois, organizou um Seminário. Julho de 2004. A Arte de Educar Filhos. Com enfoques de Gottman, Tiba. Rappaport, Szkymanski, Zagury, Kaloustian entre outros. O evento contou com a participação de 36 profissionais da área de Educação.

Como esses ensinamentos poderiam chegar ao conhecimento popular?

Tópicos foram formulados para desenvolvimento, com auxílio oficial. A proposta sistematizada foi encaminhada ao governo estadual e federal, mas há frustração.

Tópicos: Família como Instituição; Responsabilidade Familiar; Relacionamento Conjugal; Psicologia da Infância; Adolescência e Busca da Identidade; Relacionamento Pais e Filhos; Cidadania e Cidadão; Qualidade Pessoal, Autoestima e Visão Empreendedora.

O que, enquanto espíritas, necessitamos enfatizar? O desenvolvimento da Inteligência Espiritual? Como fazê-lo?

Na Faculdade de Educação aprendemos: inteligência cognitiva(QI).Elaboramos conceitos, fazemos ciência, organizamos o mundo, solucionamos problemas objetivos. inteligência emocional (QE).“Capacidade de identificar sentimentos, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções internas e nos nossos relacionamentos."

O período infanto-juvenil é decisivo na vida das pessoas. É necessário, portanto, dar-lhes uma razão para viver, para que, mais tarde, não venham a apresentar um grande vazio interior. (1). Aí pensamos em “Educação e Valores”. Em inteligência espiritual (QS), aquela que incentiva a procura de um significado para a vida.(5)

Cientistas descrevem área nos lobos temporais ligada aos valores ético-morais. Aí nos lembramos do valor da capacidade de perdoar para a Psicoimunologia (3).

Capacidade de Perdoar. “Quantas vezes perdoarei o meu irmão? Não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.” Aí tendes um dos ensinos de Jesus que mais vos devem estimular a inteligência e mais alto falar ao coração. (4)

Como perdoar? Ele ficava na rua 3 dias. Subia o morro. Gastava todo dinheiro (dois filhos), bebia, cheirava.Voltava, sujo, triste e faminto. Cruzava a porta e meus sentimentos se misturavam. Alívio, por estar vivo (não estava viúva), e pena. A tristeza me dava sensação de fracasso e incapacidade.

Evangelho Segundo o Espiritismo (ensinos morais do Cristo), Cap X. Bem Aventurados os Misericordiosos

Perdoarás, sem limites, cada ofensa tantas vezes, quantas te for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mesmo, que torna a criatura invulnerável ao ataque, aos maus procedimentos e às injúrias. (4)

O que fez a esposa quando ficou sabendo? Quando fiquei sabendo, a primeira coisa que fiz foi criticar e julgar. Brigava, chorava e depois perdoava. Passei longos anos assim. Eu o amava e tentava tirá-lo dessa vida. Dopava-me – calmantes - e entrava em profunda depressão. Aí aconteceu a terceira gravidez – nasceu uma menininha.

“Estudai e comentai estas palavras que vos dirijo da parte daquele que, do alto dos esplendores celestes, vos tem sempre sob as suas vistas e prossegue com amor na tarefa ingrata a que deu começo faz dezoito séculos.”(4)

O que aconteceu quando nasceu o segundo?

O segundo filho nasceu. Fiquei feliz e desorientado. Minha situação financeira era péssima. Saí da maternidade e fui ao morro procurar cocaína, para fugir da realidade e de mim mesmo.

Como perdoar? O mérito do perdão é proporcional à gravidade do mal. Nenhum merecimento teríeis em relevar os agravos dos vossos irmãos, desde que não passassem de ofensas leves, simples arranhões. (4)

Na Casa Espírita. Depois de mais um sumiço reapareceu triste e solitário, estendeu a mão e pediu ajuda. Mais uma vez acreditei. Encontrei ajuda. Misericórdia de Jesus. Meu esposo estava doente, precisava de apoio e compreensão.

Se vós vos dizeis espíritas, sede-o, pois. Olvidai o mal e não penseis senão numa coisa: no bem que podeis fazer. (4)

Dez Anos Depois. Hoje sou feliz. Fiz a minha parte. Apesar das críticas, não abandonei o barco. Agradeço pela força que ele teve ao se admitir um adicto e aceitar com humildade a ajuda oferecida.

Estes são depoimentos encontrados no livro Alcoolismo e Drogas. Caminhos de Esperança 1)

Podemos fazer um pouco mais, quando chegamos a um nível mais alto da inteligência espiritual.

Não olvideis que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos. Perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de amizade. Mas, perdoar aos inimigos... é fazer algo mais. Paulo. (Lião,1861). Perdão das Ofensas. (4)

A inteligência espiritual e a Família. O afeto recebido é que torna crianças e jovens capazes de tolerar e se submeter às normas sociais e familiares, controlando seus impulsos, ao invés de por eles serem controlados. (1)







(*) Texto escrito para o Seminário sobre “Dependência Química e Espiritismo”. Cartaz em



http://visaoespiritabr.com.br/cura/seminario-dependencia-quimica-e-espiritismo



http://www.recantodasletras.com.br/mensagensdeamor/3652286

domingo, 30 de setembro de 2012

SUICÍDIO POR OBSESSÃO


(Revista Espírita, janeiro de 1869 - Variedades)

Lê-se no Droit:

“O Sr. Jean-Baptiste Sadoux, fabricante de canoas em Joinville-le-Pont, percebeu ontem um jovem que, depois de ter vagado durante algum tempo sobre a ponte, subiu no parapeito e se atirou ao Marne. Imediatamente ele foi em seu socorro e, ao cabo de sete minutos, retirou-o. Mas a asfixia já era completa e todas as tentativas para reanimar aquele infeliz foram infrutíferas.

“Uma carta encontrada com ele permitiu que fosse reconhecido como o Sr. Paul D..., de vinte e dois anos, residente na Rua Sedaine, em Paris. Essa carta, dirigida pelo suicida ao seu pai, era extremamente tocante. Ele pedia perdão por abandoná-lo e dizia que há dois anos era dominado por uma ideia terrível, por uma irresistível vontade de se destruir. Acrescentava que lhe parecia ouvir fora da vida uma voz que o cha mava sem descanso e, a despeito de todos os esforços, não podia impedir de ir para ela. Encontraram, também, no bolso do paletó, uma corda nova, na qual tinha sido feito um laço corredio. Depois do exame médico-legal, o corpo foi entregue à família.”



A obsessão aqui está bem evidente, e o que não está menos evidente é que o fato nada tem a ver com o Espiritismo, nova prova de que esse mal não é inerente à crença. Mas se o Espiritismo não tem nada a ver com este caso, só ele pode dar a sua explicação. Eis a instrução dada a respeito por um dos nossos Espíritos habituais, da qual ressalta que, malgrado o arrastamento a que o jovem cedeu para a sua infelicidade, ele não sucumbiu à fatalidade. Ele tinha o seu livre-arbítrio e, com mais vontade, poderia ter resistido. Se tivesse sido espírita, teria compreendido que a voz que o solicitava não poderia ser senão de um mau Espírito e as consequências terríveis de um instante de fraqueza.



(Paris, Grupo Desliens, 20 de dezembro de 1868 – Médium: Sr. Nivard)


A voz dizia: Vem! Vem! Mas teria sido ineficaz essa voz do tentador, se a ação direta do Espírito não se tivesse feito sentir. O pobre suicida era chamado e impelido. Por quê? Seu passado era a causa da situação dolorosa em que se achava. Ele apegava-se à vida e temia a morte. No entanto, nesse apelo incessante que ouvia, pergunto eu, ele encontrou força? Não, ele hauriu a fraqueza que o perdeu. Ele venceu os temores, porque esperava no fim encontrar do outro lado da vida o repouso que o lado de cá lhe negava. Ele se enganou, pois o repouso não veio. As trevas o cercam, a consciência lhe censura o ato de fraqueza e o Espírito que o arrastou gargalha ao seu redor e o criva de motejos constantes. O cego não o vê, mas escuta a voz que lhe repete: Vem! Vem! e que depois zomba de suas torturas.

A causa deste caso de obsessão está no passado, como acabo de dizer. O próprio obsesso r foi impelido ao suicídio por esse que ele acaba de empurrar para o abismo. Era sua mulher na existência anterior, e tinha sofrido consideravelmente com o deboche e as brutalidades de seu marido. Muito fraca para aceitar a situação que lhe era dada, com resignação e coragem, buscou na morte um refúgio contra os seus males. Ela vingou-se depois, sabeis como. Entretanto, o ato desse infeliz não era fatal. Ele tinha aceito os riscos da tentação; ela era necessária ao seu adiantamento, porque só ela poderia fazer desaparecer a mancha que havia conspurcado sua existência anterior. Ele tinha aceito os seus riscos, com a esperança de ser mais forte, e se havia enganado: sucumbiu. Recomeçará mais tarde? Resistirá? Dele dependerá.

Rogai a Deus por ele, a fim de que lhe dê a calma e a resignação de que tanto necessita, a coragem e a força para não falir nas provas que tiver de suportar mais tarde.



LOUIS NIVARD.

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sábado, 22 de setembro de 2012

Objetivos para viver


Objetivos para viver

Existir significa ter vida, fazer parte do Universo, contribuir para a harmonia do Cosmo.

Assim, a vida que pulsa na intimidade de cada um de nós é convite de Deus para nos integrarmos a Ele, ao Universo, visto sermos dEle os filhos diletos.

E a busca por um sentido, por entender a vida com um significado especial, é a força propulsora para o progresso.

Todo aquele que encontra um objetivo para viver, sejam seus ideais, suas necessidades ou mesmo suas ambições, terá em sua vida um sentido maior.

Mesmo sob cruciais e pesadas tormentas, o objetivo a se alcançar será sempre a mola propulsora.

Afinal, quando se tem o porquê viver, a forma como se vive, até que se atinja o objetivo desejado, torna-se secundária.

Viktor Frankl, psiquiatra judeu, afirmou que somente venceu os suplícios dos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial porque conseguiu encontrar um nobre objetivo para quando saísse de lá.

Ele tinha três razões para viver: sua fé, sua vocação e a esperança de reencontrar a esposa. Ali onde tantos perderam tudo, Frankl reconquistou não somente a vida, mas algo maior.

Assim, enquanto tantos resvalavam na fuga pelo suicídio, nos dias de confinamento, ele superou as dores físicas e morais, ao se apoiar nos objetivos que se propôs alcançar.

Thomas Alva Edison, após mais de dois mil experimentos, mantinha o mesmo ânimo na busca de soluções para a criação da lâmpada elétrica, impulsionado que estava pelo objetivo da descoberta e da criação.

Muitos aposentados e idosos, depressivos diversos, que se neurotizaram, recuperam-se através do serviço ao próximo, da autodoação à comunidade, do labor em grupo, sem interesse pecuniário, reinventando razões e motivos para serem úteis, assim rompendo o refúgio sombrio da perda do sentido existencial.

Sem meta não se vive. Mas essa se trata sempre de um sentido pessoal, que ninguém pode oferecer e que é particular a cada qual.

Não por outra forma que, comumente, pessoas atuantes, vibrantes, quando perdem o objetivo pelo qual pautavam a vida, resvalam nos sombrios caminhos da depressão.

Assim, cabe a cada um de nós não se esquecer do significado maior da vida. Se os parâmetros externos modificam-se, se a vida se altera, é natural que nossos objetivos também sigam curso semelhante.

Porém, não esqueçamos que será sempre objetivo de todos nós a busca da construção íntima através do desenvolvimento intelectual e das conquistas morais.

Será a conjugação desses dois valores que proporcionarão bem-estar interior e plenitude.

Quem percebe a vida como uma oportunidade constante e inesgotável de progresso e conquistas, jamais deixará de possuir objetivos, pois terá como meta maior a construção da plenitude existencial na intimidade da alma.


Redação do Momento Espírita, com base no cap. 5, do livro Amor, imbatível amor, pelo Espírito Joanna de Ângelis,
psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Um milhão de pessoas morrem por suicídio no mundo ao ano


Um milhão de pessoas morrem por suicídio no mundo ao ano

Um milhão de pessoas morrem por suicídio no mundo ao ano, diz OMS
Relatório diz que uma pessoa se suicida a cada 40 segundos.
Organização Mundial de Saúde afirma que problema é grave.
Da France Presse

Um milhão de pessoas por ano se suicidam, uma quantidade maior que o total de vítimas de guerras e homicídios, um problema que se agrava, segundo o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) publicado em Genebra. O relatório foi elaborado para a décima edição do Dia Mundial de Prevenção de Suicídio que acontece na próxima segunda-feira (10).
A OMS destacou que as taxas de suicídio mais elevadas são a dos países do leste da Europa, como Lituânia ou Rússia, enquanto as mais baixas se situam na América Central e do Sul, em países como Peru, México, Brasil ou Colômbia. Estados Unidos, Europa e Ásia estão na metade da escala e não há estatísticas sobre o tema em muitos países africanos e do sudeste asiático.
"Uma pessoa se suicida no mundo a cada 40 segundos aproximadamente, ou seja, mais do que o número combinado das vítimas de guerras e homicídios", informou o relatório da Organização Mundial da Saúde.
Problema grave
O número de tentativas de suicídio ainda é muito grande, com 20 milhões de tentativas por ano. Segundo a OMS, 5% das pessoas no mundo fazem uma tentativa de suicídio pelo menos uma vez em sua vida.
O problema está se agravando e o suicídio "se transformou em um problema de saúde muito importante" para a OMS, informou nesta sexta-feira o doutor Shekhar Saxena, ao apresentar esse relatório à imprensa em Genebra.
"O suicídio é uma das grandes causas de morte no mundo e durante os últimos anos, sua taxa aumentou em 60% em alguns países", acrescentou. O suicídio é a segunda causa de morte no mundo entre os adolescentes de 15 a 19 anos, mas também alcança taxas elevadas entre pessoas mais velhas.
A OMS destaca que há três vezes mais suicídios entre homens do que entre mulheres, independente das faixas de idade e os países considerados. Por outro lado, há três vezes mais tentativas de suicídio entre as mulheres que entre os homens.
A disparidade entre as estatísticas é explicada pelo fato que os homens empregam métodos mais radicais que as mulheres para morrer.

Do Globo.com

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O ERRO MAIS GENERALIZADO NA ABORDAGEM INDIVIDUAL DO RISCO IMINENTE DE SUICÍDIO

IPUB/UFRJ

O ERRO MAIS GENERALIZADO NA ABORDAGEM INDIVIDUAL DO RISCO IMINENTE DE SUICÍDIO

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Márcio Amaral
Para Flávio, Im memoriam
São muitos e generalizados os erros que se cometem na intervenção junto às pessoas que estão considerando mais seriamente dar um fim à sua própria vida. Sua origem repousa sempre na incapacidade de, efetivamente, penetrar mais profundamente os processos mentais (e sociais*) que levaram àquela situação. Antes de mais nada, a iminência do suicídio obriga a que revejamos todos os códigos baseados no sucesso ou alegria individuais e, principalmente, não os tentemos aplicar ao suicida em potencial. Tentar trazer um pré-suicida para um código mesquinho de valores pode até agravar o risco e apressar a decisão. Ele, certamente, já o terá tentado infinitas vezes, sempre de maneira infrutífera. Esforçar-se para, sob diversas maneiras, convencê-los de que a vida é boa e que a felicidade até existe, só agrava sua sensação de isolamento. Há que abrir algum caminho novo e segundo novos princípios.
"Coração de tísico.../Ó meu coração lírico!/Tua felicidade não pode ser como a dos demais /Terás que construir você mesmo a tua própria/Uma felicidade única/Que seja como o vestido em farrapos de uma menina pobre/---Feito por ela mesma."
("Bonheur Lyrique", tradução livre do original em francês, de M. Bandeira). O que têm em comum o tuberculoso e o pré-suicida? Todos vivem permanentemente em "tête-à-tete" "com uma senhora magra, séria,/Da maior distinção." ("Adeus Amor", M. Bandeira).
Que as taxas de suicídio se elevem, nos países do HNorte, no início da primavera, deveria ser suficiente para que nos convencêssemos de que os nossos códigos de expectativa de prazer e expressão vital invertem-se quando da aproximação da decisão de alguns por dar fim à própria vida. Para muitos desses, deve-se pensar que a espera da primavera é como uma espécie de última oportunidade (ou "Última Primavera", canção de E. Grieg, mas válido também para a "Derradeira Primavera" de Tom Jobim): "se, mais uma vez, tudo falhar; as pessoas à minha volta estiverem mais alegres, cheias de vitalidade e com o egoísmo típico e se eu não conseguir disso participar, o que me resta é morrer".
Alguns entenderão esse processo como uma prova do egoísmo dos suicidas e de sua necessidade de destruir a alegria dos demais. Outros, apoiados nessa maneira de ver, desenvolverão para com eles uma hostilidade, como um famoso cineasta em artigo de jornal há alguns anos. Condenam o suicida, como se aquele ato fosse "somente para atrapalhar". Os que assim pensam expressam apenas a sua própria mesquinhez. São os mesmos que nunca conseguiram "descer" de seus próprios códigos para tentar entender/acolher os que sofrem de algo para além de sua própria capacidade de compreensão. Melhor seria que simplesmente se calassem e deixassem o tema para outros.
Quando ouço jovens dizendo de si mesmos "Sou uma pessoa triste!", replico sempre "Não! V. é, em princípio, uma pessoa mais profunda!". Aquela sentença é suficiente para a conclusão. Muitos deles são apenas incapazes de participar do "coro dos contentes". Exiladas em meio a um mundo que as bombardeia com a comunicação: "V. tem que ser feliz! Se não for, aprenda a representar para v. mesma! Se não conseguir, finja diretamente! E se tudo isso der errado, desapareça!", essas pessoas começam até a afetar aquilo que pensam ser sua própria tristeza, enquanto outros afetam uma alegria patética, o que pode ser um indício de agravamento. Tudo pelo esforço de encontrar semelhantes e formar uma comunidade. Muitos ficarão completamente sozinhos, mais por suas virtudes do que por seus defeitos.
"O poeta é como o príncipe das alturas/Que busca a tempestade e ri da flecha no ar/Exilado em meio à corja impura/Suas asas de gigante impedem-no de andar" (O Albatroz, C. Baudelaire)
Do ponto de vista social, o quanto essa apologia da alegria é perigosa, atesta-o o paralelismo verificado em vários países desenvolvidos, entre altas taxas de suicídio, por um lado, e alta percepção de "felicidade" numa mesma sociedade. Na Dinamarca, por exemplo, há uma alta percepção das pessoas quanto a serem "felizes", mas também muito altas taxas de suicídio. Enquanto em Portugal observa-se exatamente o oposto. Em vez de discutir "percepção de felicidade", talvez precisemos começar a discutir a abertura das sociedades para acolher a dor e ouvir os dramas mais profundos de seus membros. Essa discussão um tanto tola quanto à felicidade, como se ela estivesse somente na nossa dependência, talvez esteja apenas aprofundando o abismo entre as pessoas e inibindo sua comunicação.
O estudo do suicídio revela tantos aparentes PARADOXOS! Um outro foi assinalado por Primo Levi, judeu sobrevivente de Auchwitz: por lá, os suicídios eram muito raros ou simplesmente não aconteciam. Ele mesmo, veio a se suicidar já depois do 80 anos e, até hoje, muitos consideram isso um absurdo. TODO PARADOXO É APARENTE. Revela apenas a estreiteza de nossas mentes e valores. Tudo isso para dizer: se v. quer abordar o problema do suicídio e do encontro de um sentido para vida, tem que estar preparado para buscar um novo código de valores, baseado na importância social da sua própria vida.
Por fim, tudo que a grande mídia e as grandes corporações visam é induzir nas pessoas uma alegria vazia**. Assim, elas se tornarão mais facilmente manipuláveis. Em relação à nossa cultura, sofrem de uma total incompreensão quando nos julgam padrão para o tipo de alegria que buscam. O grande perigo que os cariocas correm, hoje em dia, é o de tentar se tornar a caricatura que os estrangeiros estão dizendo que eles são. O ritmo que é considerado nossa marca, por exemplo, está muito longe da alegria vazia. Por isso, talvez não sirva para divulgação em grande mídia. A marcação no surdo é por demais profunda para os "ouvidos alegrinhos". Por isso abandonaram também os "Negro Spirituals" em função dos muito "alegres"e um tanto vazios "Gospell". Há uma perspectiva trágica na simples existência humana e ela não é acessível a todos. Alguns podem até estar no mundo como "Veranistas" (A.Tchecóv). Há alguma grandeza em não aceitar esse caminho...Mas nem todos conseguem abrir outros. A eles minha simpatia.
*O suicídio é o fenômeno demográfico mais previsível entre todos. Por isso, está longe de ser uma mera decisão individual. Antes de começar um ano, pode-se prever, com margem de erro mínima, o número de suecos, alemães, húngaros, japoneses, etc. que cometerão o sucídio. Temos fracassado demais nessa prevenção e isso repousa na incapacidade das sociedades de rever valores de maneira mais profunda. A intervenção técnica se dá apenas quando o conflito está configurado ou quando houve uma tentativa.
**Não faz muito tempo, a Globo tentou "emplacar" nas transmissões esportiva um boneco que sintetizava tudo isso: um certo "João Sorrisão". Chegamos a ver alguns jogadores tentando imitá-lo. Não viveu para contar muitas histórias. Há algo de indomável em nosso povo. Já no Faustão, a musiquinha é: "Sorria/Tire a tristeza dessa cara/...O bom da vida é ser feliz....".

4 AFIRMAÇÕES PARA UM SUICIDA EM POTENCIAL (I)


SUICÍDIO: 4 AFIRMAÇÕES PARA UM SUICIDA EM POTENCIAL (I)

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"Não se chega a essas leis elementares pelo caminho lógico, mas somente pela intuição, apoiada em um contato solidário com a experiência" A. Einstein (GF Kneller: "A Ciência como Atividade Humana", p. 161, Zahar-EDUSP)
Márcio Amaral
INTRODUÇÃO
A partir da observação de que se pode atribuir pelo menos um diagnóstico psiquiátrico a cerca de 90 a 95% das pessoas que cometem o suicídio, as mentes mais apressadas estabeleceram uma relação causal entre os dois fatos. A simples observação, entretanto, de que: 1-as doenças mentais são distribuídas de maneira muito homogênea (incidências e prevalências muito parecidas) entre os diversos povos e; 2-as taxas de suicídio variam em mais de cinco vezes entre alguns países de um mesmo continente (Europa), essa relação fica totalmente abalada. Mais do que isso: SUPER-DIMENSIONAR O PAPEL DA DOENÇA TENDE A SER UM ENORME MAL no processo de crítica que as sociedades precisam fazer em relação à sua própria capacidade de lidar com os dramas de seus membros. Outros dirão que o maior risco nos países do norte europeu é uma questão do frio e da frieza que se observam por lá, mas a Noruega, por exemplo, tem cerca de metade das taxas de suicídio em relação às observadas na Dinamarca. Ou seja, o fenômeno é muito mais complexo do que pode parecer.
Se as taxas variam muito entre países e regiões: O SUICÍDIO É O FENÔMENO DEMOGRÁFICO MAIS PREVISÍVEL DENTRE TODOS, em um mesmo país ou região. Isso simplesmente prova que: 1-A decisão individual pelo suicídio é apenas um auto-engano; 2-O suicídio é, antes de tudo, um fenômeno sociológico. Existiria em cada sociedade uma "corrente sucidogênica", mais ou menos intensa (E.Durkheim). Quer isso dizer que os profissionais de saúde não têm nada a fazer a respeito? Não! Mas é preciso ter em mente que, quando da nossa entrada na situação de risco, o processo essencial já estará formado e, em alguns casos, cristalizado: somos chamados apenas quando a ideação tomou forma mais definida ou houve alguma tentativa. Es sa é a explicação para o nosso enorme e histórico fracasso na prevenção do suicídio. Enquanto esses acontecimentos não servirem para uma reflexão profunda a respeito das relações sociais, continuaremos a apenas roçar o problema e a fracassar redondamente. Podemos, e essa é a razão desse texto, mudar alguns cursos individuais que estavam dirigidos para a morte, mas socialmente, e enquanto não houver mudanças importantes nas relações humanas, continuaremos a fracassar na diminuição daquelas taxas.
Por que podemos dizer que temos fracassado redondamente na prevenção do suicídio? Até a década de 1960, morria quase o mesmo número de suecos, anualmente, tanto por suicídio quanto por acidentes de automóvel: cerca de 2000. No mesmo período, foram implementadas políticas públicas para a prevenção de ambos os riscos. Hoje, as mortes por acidentes de trânsito naquele país estão reduzidas a cerca de 370---apesar do aumento da população e do número de carros. Essa é uma das maravilhas daquele país---enquanto as mortes por suicídio se elevaram, especialmente em alguns subgrupos. Dirão alguns que, sem os esforços de prevenção, os números seriam muito mais elevados. SERIA UMA AFIRMAÇÃO TOTALMENTE VAZIA E INDIGNA DE UM PESQUISADOR. Somente para exercício intelectual, poderíamos dizer o oposto: essas práticas estariam agravado o problema. Seria uma afirmação igualmente vazia. O estudo das séries históricas, como gostam de dizer os epidemiologistas, mostram que as curvas seguiram apenas como que intocadas: TUDO O QUE FOI FEITO NÃO TEVE EFEITO SIGNIFICATIVO SOBRE ELAS. Qualquer afirmação diferente disso deve ser entendida como auto-engano e esforço para que não se fechem as fontes de recursos que alimentam as pesquisas e os próprios pesquisadores. Quer isso dizer que há que interromper esses esforços de prevenção? Não! Mas não deve haver também mais espaço para simplesmente seguir adiante de maneira cega tentando nos convencer de que nossa boa vontade é suficiente.
CIÊNCIA E EXPERIMENTAÇÃO NO SUICÍDIO
Outro equívoco muito comum entre nós é a identificação (limitação) da atitude científica com a experimentação*. Considerando que toda experimentação visa criar situações artificiais representativas de alguma situação habitual na vida das pessoas, concluiríamos, necessariamente, ser a investigação científica do suicídio impossível. Por definição, NÃO É POSSÍVEL, NEM RECOMENDÁVEL, CRIAR SITUAÇÕES ARTIFICIAIS PARA AVALIAR SEU RISCO DE INDUZIR O SUICÍDIO. Podemos experimentar, por exemplo, os efeitos da inalação de CO2 como fator de indução para crises de ansiedade, mas, para com o suicídio, qualquer atitude semelhante seria totalmente contra-indicada. Que outros digam que experimentação é possível nesses casos!
Com uma grande frequência, as hipóteses geradas pela aplicação de uma atitude científica (diante dos fenômenos da natureza) antecederam de muito a possibilidade de sua experimentação. Talvez o melhor exemplo para isso tenha sido o modelo heliocêntrico de N. Copérnico. Toda a sua argumentação se baseou em observações indiretas e não testáveis, até que fossem desenvolvidas lunetas mais potentes e que Galileu (o pai da experimentação, levada a efeito para provar outros fenômenos físicos) começasse a tomar notas do movimento das luas de Júpiter. Sua variação de posição implicava um movimento circular em torno do planeta, desfazendo assim a crença medieval na existência de uma abóbada celeste onde todos os astros estariam fixados e girando em torno da Terra.
Deixemos, então, de falar em Ciência (com C maiúsculo). Ela simplesmente não existe em si e por si mesma. O que existe é uma atitude humana, digamos assim, mais ou menos científica. Sempre que alguém: 1-Observa mais detidamente algum fenômeno da natureza ou humano; 2-Esmera-se na tentativa de sua descrição; 3-Procura por suas correlações possíveis, deixando de lado crenças místicas e/ou religiosas para sua origem; 4-Levanta hipóteses para sua explicação; 5-Tenta testá-las, quando possível; 6-Tenta elaborar uma teoria que possa explicar vários outros fenômenos correlatos, está tendo uma ATITUDE CIENTÍFICA. É o que interessa. Reduzir tudo isso à experimentação, além de demonstrar uma total perda de senso histórico, não depôe bem quanto à elevação intelectual de alguém.
O que era para ser uma Introdução ganhou corpo e se tornou um texto. Ganhei tempo para tentar formular melhor algo com que convivo há décadas.
CONTINUA...
*Os cientistas foram subdivididos por GF KNELLER (idem) em teorizadores ("impulsivos e com necessidade irrefreável para desafiar e contestar idéias aceitas") e experimentadores ("usualmente metódicos e meticulosos"). Em seu muito profundo e acessível livro, listou grandes cientistas nas duas categorias. Alguns poucos conseguiram balancear essas duas tendências. Considerando que, em relação ao suicídio, a experimentação---no sentido clássico da palavra---sofre uma limitação aparentemente incontornável, há que desenvolver um outro tipo de experimentação: a aplicação das 4 frases que serão discutidas é uma tentativa nesse sentido.

4 AFIRMAÇÕES PARA UM SUICIDA EM POTENCIAL (II)


SUICÍDIO: 4 AFIRMAÇÕES PARA UM SUICIDA EM POTENCIAL (II)

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Márcio Amaral
Há no suicídio algo de grandioso e terrível...(O suicida)...deve ter caído de muito alto; ter-se elevado até os céus e entrevisto algum paraíso inacessível...Não há um livro sequer que possa se comparar (em poesia) à pequena notícia: "Ontem, às 4 horas, uma mulher moça se atirou ao Sena, de cima da Ponte das Artes" (H. de Balzac, "Pele de Onagro")
1- Contrariamente ao que você pensa, é por um excesso de amor à vida que você está pensando em se matar! Em algum momento da sua existência, com toda a certeza, sonhou com um mundo tão ideal; teve tanto prazer com isso, que não suporta uma vida considerada degradante. É pela idealização da vida que você está pensando em dar fim à sua própria.
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Alguns poderão considerar essas palavras vazias. Já pude testar seu efeito. No minimo, é introduzida uma idéia nova que obriga a pensar. É muito comum que essas pessoas tenham como que "endurecido" e se tornado amargas. Como se sentem muito privadas pela vida, acabam tentando se convencer de que a detestam. É um último auto-engano cometido pela nossa pobre RAZÃO quanto a ter controle sobre os processos em geral. Há que abalar essa convicção. É verdade que alguns conseguem manter, até o fim, uma idealização consciente da vida e culpem apenas a eles mesmos pelo que sentem ser "seus fracassos". Foi o caso do maior poeta português---depois de Camões, é claro---Antero de Quental.
"O suicida ama a vida e, por isso, quando se mata não faz mais do que se rebelar contra uma situação...Não renuncia à vontade de viver, mas às condições de vida" (A. Schopenhauer: "A Vontade de Amar").
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A situação mais expressiva que conheço, nesse sentido, foi a do quase suicida que se atirou do vão central da ponte, há mais de 20 anos. Como manteve a consciência, lutou bravamente por horas para conseguir ficar à flor d'água, apesar das múltiplas fraturas que sofreu.
"Sempre desejada, por mais que esteja errada/...Ninguém que a morte..."(Gonzaguinha, "O Que É, O Que É?")
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"Horrorizei-me diante do abismo que percebi entre o que sou e o que eu queria e teria podido ser" (L. Tostói: "Diário de um Marcador de Bilhar")
2- Você está pensando em dar fim à vida porque forjou para v. mesmo um ideal de vida (ou aceitou aquele que lhe foi sendo incutido pelas pessoas que ama) do qual acha que não conseguiu sequer se aproximar. Há que dele se libertar. Não vivemos sem algum ideal projetado em um futuro*. Essencial, entretanto, é que esses ideais inoculem e encham de vida a própria vida HOJE, em vez de embotá-la. Quando esses ideais se distanciam demais da nossa situação atual---e até de nosso potencial---esmagam-nos, impedindo que desenvolvamos nossas capacidades lentamente. Para as coisas mais importantes da vida, n ão inventaram nada parecido com um "forno de micro-ondas". Tudo tem que ser desenvolvido lentamente, como que em um "forno a lenha". Antes de tudo, lembre-se de que v. tem tempo. Há que se dar um pouco mais de tempo!
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Esse me parece ser o fator essencial e indispensável para os suicídios, desde que excluamos: 1-os "altruistas", segundo Durkheim aqueles que se dão em função dos interesses de uma cultura: homens-bomba, monges que se imolam pelo fogo, greves de fome, e outros; 2- os ditos "racionais", muito frequentes entre médicos que conhecem o calvário que implicam algumas doenças. Freud teria a ele recorrido com a ajuda de seu médico e muitas gotas de opiácio. Para todos os outros, inclusive em situações de psicose, esse elemento de conflito aparentemente insanável entre ideal do eu esituação real de vida parece-nos desempenhar papel nuclear. Essa é a principal "bomba a desarmar", uma vez entranhada no aparelho psíquico dos suicidas em potencial.
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Nesse processo, não me canso em tentar abalar os velhos valores de gerações anteriores, aparentemente muito elevados, mas que se voltaram contra os seres muito humanos: "Qualquer 'virtude' que não seja humana, volta-se contra os homens" ("Assim Falava Zaratustra"). Nada é mais perigoso para uma pessoa do que tentar se "aproximar dos anjos", despindo-se de todos os assim chamados "maus sentimentos":
"Esta ausência de todo interesse vil, capaz de operar uma inversão nos sentimentos nessas ocasiões, é uma das punições que o Céu parece ter prazer em infligir às almas depuradas" (Stendhal, "Armance").
"Têm qualquer coisa de anjo esses suicidas voadores/Qualquer coisa de anjo que perdeu as asas" (M. Quintana)
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Essa é a razão pela qual não me canso de dizer que o problema da humanidade não é o risco do INFERNO, mas o próprio CÉUem si. No momento em que "inventaram um céu muito ideal", atiraram quase toda (senão toda) a humanidade em algum "inferno": seja o da abstinência e conflito com a própria natureza de cada um (mais frequente nos mosteiros e conventos, mas também presente na vida do dia a dia); seja no sentimento de culpa (e sensação permanente de estar em dívida), daqueles que foram chamados: "ovelhas negras" (que beleza deve ter uma ovelha negra!), boêmios, vagabundos, "urubus malandros", ciganos..!
Continua.......
*Nunca me convenceram frases ocas falando em "aqui e agora" como se o presente estivesse desligado do passado e do futuro. Vivemos projetando e dando continuidade! Aliás não somente a nós mesmos, mas a toda a história da humanidade e---por que não dizer?---da Terra. A questão essencial é a assinalada: 1-Estão nossos projetos para o futuro nos enchendo de vida HOJE, ou nos paralisando? 2-Nosso olhar para o passado está fornecendo bons instrumentos para que lidemos melhor com a vida HOJE, ou estamos como que aprisionados nele e pelos valores e deformações de nossos antepassados?

4 AFIRMAÇÕES PARA UM SUICIDA EM POTENCIAL (III)


SUICÍDIO: 4 AFIRMAÇÕES PARA UM SUICIDA EM POTENCIAL (III)

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"Quando nossa vida é um mal para nós mesmos e não é um bem para ninguém, é permitido que dela nos livremos"(JJRousseau, "Nouvelle Heloise")
3-Você está se sentindo um peso na vida das pessoas que ama (ou que já sentiu amar) e quer livrá-las desse peso. Acha que elas estarão melhor sem v., mas isso não é uma verdade. Faria tanto bem a todos que vs---pois todos os mais próximos estão nessa situação e não apenas o suicida em potencial---conseguissem superar esse momento mais difícil! V. tem dúvidas quanto à sua importância na vida dessas pessoas? Eu não tenho, ainda que todos o neguem.
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É bem verdade que tende a haver uma grande e mútua hostilidade nas relações dos suicidas em potencial com as pessoas mais próximas. O sentimento de exclusão e, em muitos casos, o desejo de punição das pessoas amadas (através do suicídio) é também uma constante. Não o desconhecemos, mas nosso papel é, sem negar essa evidência---até porque tudo isso costuma ser muito evidente---dar mais valor, assinalar e frisar a outra face desses terríveis ressentimentos. Por isso, foi tão apropriada denominação: "Sobreviventes do Suicídio" aplicada por um grupo de pesquisadores brasileiros aos parentes e/ou amigos muito próximos de um suicida. Nesses casos, todos morreram um pouco com aquela morte e, por um bom tempo talvez apenas sobrevivam, torturando-se p ermanentemente.
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As situações mais difíceis que enfrentamos foram aquelas nas quais podia-se perceber um discurso generalizado---denunciado por expressões diversas---de que todos os envolvidos sentiam ser o suicídio a única solução para alguns dramas que atingiam todos à volta. É um sentimento natural, especialmente em situações que se arrastam há longo tempo. Há que estimular sua verbalização, ainda que se disparem reações hostis de um ou outro lado (do próprio e/ou familiares). É um engano achar que o falar em sentimentos eleva os riscos. Há no suicídio uma componente importante daquilo que os psicanalistas chamaram ATUAÇÃO, conceito que implica transformar em condutas (em geral de risco) conflitos inconscientes sentidos como de impossível concientização e verbalização. Conseguir que se os verbalizem pode mudar o curso de muitas dessas situações. Quem, em nossa área, não acredita n o poder da palavra deveria considerar mudar de atividade:
"Uma boa palavra, rapaz/É assim que um homem faz..." (C. Velloso)
Mas o que seria, então, uma BOA PALAVRA? Adulações adocicadas? Decididamente elas não funcionam para com pessoas que chegaram àquele tipo de situação. Boa palavra é aquela que se encontra profundamente com um sentimento e que o expressa na sua plenitude*. Essa é a razão pela qual até um "palavrão" poderia ser considerado, em certas circunstâncias, uma boa palavra: todo sentimento precisa encontrar as suas palavras e nós que aprendamos a lidar com eles. Qualquer coisa contrária a isso seria uma defesa da alexitimia**.
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Sem qualquer dúvida é a certeza da nossa importância na vida dos semelhantes que mantém a nossa própria vida, embora alguns transfiram esse sentimento para animais de estimação. Se o instinto individual de sobrevivência fosse o mais poderoso, o suicídio seria um contrassenso. O instinto gregário é muito mais forte e seu colapso ameaça agudamente a sobrevivência individual. Há relatos de biólogos acerca de golfinhos adoentados que, quando se tornam um estorvo para o seu grupo---uma vez que os outros são obrigados a se revezar para mantê-lo à flor da água---atiram-se sobre pedras. Até mesmo a lenda do "cemitério de elefantes" estaria baseada nesse aparente fato: quando um elemento doente sente ter se tornado um problema (dificultando a migração obrigatória), afasta-se para morrer sozinho.
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Dessa forma, e contrariamente ao que parece, todo suicídio seria associado a algum altruísmo. Queiram ou não, fazemos parte de uma imensa comunidade humana com a qual temos algum compromisso. Nesse sentido, o trabalho costuma ser seu aspecto mais palpável. A elevação das taxas de suicídio entre pessoas mais idosas e aposentadas (especialmente em sociedades muito competitivas, onde as pessoas são tratadas como meras peças de uma engrenagem e não como pertencentes a uma cultura) teria uma forte relação com esse fato.
Estamos conscientes de que essas palavras podem até "glamourizar" o suicídio.
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"Aquilo que não me destrói me fortalece" (Nietzsche)
"A dificuldade pode ser o trampolim do forte ou a pedra do túmulo do fraco" (Balzac)
4- Esse momento em que v. tem a sensação de que todos os caminhos se fecharam; de que desceu como que um manto de sombra sobre a sua vida, para a qual não vê qualquer perspectiva, pode e deverá passar. Muitas pessoas que produziram obras de valor para a humanidade passaram por situação de quase suicídio e somente depois disso sua obra atingiu maior grandeza: L.Tostói, que mandou que se escondessem todas as cordas e afastassem as armas de fogo quando sua esposa engravidou de seu primeiro filho; A. Kurosawa, que teria feito uma tentativa logo após o fracasso do seu "Dodeskaden" (1970); JW Goethe, no período de seu "Wether"; o violinista Y. Heifetz, após uma crítica demolidora teria também pensado em se matar, e tantos outros. Valorize esse momento! Talvez nele esteja concentrado também o que v. tem de melhor. Para morrer, sempre haverá tempo. Evitemos, o mais possí vel, esse caminho sem volta.
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Ninguém está livre de sentir que algumas vidas entraram em uma espécie de "beco sem saída". Nós, entretanto, não temos o direito de dar curso a essa idéia/sentimento. Precisamos criticá-la duramente. Há nisso: um julgamento precipitado, a partir de uma situação cujos meandros mais profundos desconhecemos; uma onipotência um tanto tola, pois partimos do princípio de que sabemos e dominamos as condições necessárias para a preservação da vida; uma explicação forçada para aliviar nosso próprio fracasso; além da não crença na capacidade da própria vida de se recontruir, até mesmo quando menos se espera. Ninguém o demonstrou de maneira tão profunda quanto os grandes russos: F. Dostoiévski na maioria de suas obras, especialmente em "Crime e Castigo" e L. Tolstói em "Ressurreição" e outros. É bem verdade, porém, que vários de seus personagens cometeram o suicídio.
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Conclusão em outro texto.
*Muito se escreveu a respeito da relação entre "as palavras e as coisas" e da maneira como os seres humanos como que asreificam, tomando-as pelas coisas em si. Gastamos muito tempo falando do mundo concreto que nos cerca, e esquecemo-nos de uma outra relação, muito mais íntima e direta das palavras: com os nossos sentimentos e as situações sociais por nós vividas. Com uma enorme frequência, as palavras têm sido usadas mais para esconder nossos sentimentos do que para sua revelação. Toda a educação ocidental tem sido dirigida para que escondamos e disfarcemos nossos sentimentos. Quando, aparentemente por engano (ato falho), expressamos um sentimento mais profundo e "inconveniente" em uma situação qualquer, dizemos que "fomos traídos" pelas palavras. Talvez grande parte de nosso mal estar social e pessoal resida no esforço p ara que nossas áreas "muito racionais" do HEsquerdo escamoteiem o que se passa no HDireito.
**Significa, quase literalmente: "sem palavras para os sentimentos". É termo híbrido (mistura grego e latim), mas, apesar disso, é de muita propriedade.