Para quem pensa cometer um suicídio sem dor, alertamos que o suicida não o fará sem dor, muita dor.

domingo, 23 de maio de 2010

Os filhos tem chance aumentada de cometer suicídio também.

Os filhos cujos pais cometeram suicídio apresentam probabilidade de suicídio duas vezes mais elevada do que a dos filhos cujos pais ainda estão vivos, de acordo com um estudo baseado em dados obtidos na Suécia.




Mas muito depende da idade do filho no momento em que o suicídio do pai ou mãe ocorre. Adolescentes e crianças pequenas são os mais vulneráveis: o risco de suicídio entre eles era três vezes mais elevado caso o suicídio de um pai tenha ocorrido antes que o filho complete 18 anos, de acordo com o estudo, publicado pela revista Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry em sua edição de maio. Se a morte do pai ou mãe por suicídio ocorre quando o filho tem 18 anos ou mais, o risco de suicídio do filho não aumenta.



Os pesquisadores enfatizaram que suicídios continuam a ser um acontecimento raro. "Quando estudamos a proporção de filhos que tentam ou conseguem suicídio, ela continua inferior a 3%", disse a diretora do estudo, Holly Wilcox, professora assistente de psiquiatria no Centro Infantil da Universidade Johns Hopkins. Nos Estados Unidos, entre sete mil e 12 mil crianças com idade inferior a 18 anos perdem um dos pais por suicídio a cada ano.



O estudo se baseia em diversos registros nacionais na Suécia, cobrindo o período de 1969 a 2004. Os 4,3 milhões de filhos que constavam dos bancos de dados nacionais foram divididos da seguinte maneira: 3,8 milhões tinham pais ainda vivos; cerca de meio milhão haviam perdido os pais devido a causas naturais; e 44.397 eram filhos de vítimas de suicídio.

Tratamento contra depressão erradica suicídio

(AFP) –



WASHINGTON, EUA — Um amplo programa de tratamento contra a depressão testado em um hospital de Michigan (norte dos Estados Unidos) permitiu a erradicação total dos suicídios há dois anos, indica um estudo publicado nesta terça-feira nos Estados Unidos.



A pesquisa figura em uma edição especial da revista Journal of the American Medical Association sobre saúde mental.



Na mostra de pacientes estudados, a taxa de suicídios caiu 75% nos quatro primeiros anos, passando de 89 para cada 100 mil a 22, uma redução significativa. Posteriormente, durante dois anos e meio, a taxa de suicídio caiu para zero.



"Estes resultados alentadores sugerem que esse programa de cuidados pode ser altamente eficaz", indicou à AFP o doutor Edward Coffey, que dirige os serviços de saúde comportamental dos hospitais Henry Ford em Detroit (Michigan).



O programa compreende, entre outros, uma avaliação sistemática dos riscos de suicídio, psicoterapias comportamental, a proibição de ter arma em casa, o estabelecimento de contato constante por consultas, telefones, visitas e e-mails.



Cerca de 33 mil pessoas se suicidam anualmente nos Estados Unidos, e 90% delas sofrem um episódio de doença mental, na maioria das vezes depressão.



Entre os fatores de risco do suicídio estão os antecedentes familiares, o abuso de álcool, de drogas ou de medicamentos, a violência familiar, as agressões sexuais, a prisão e a posse de armas, que estão presentes em mais de um suicídio em cada dois nos EUA.



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Como ficam os órfãos dos suicídas - Marie Claire

Choque Arianne encontrou o corpo da mãe logo após o tiro. Meses depois, ela desenvolveu um déficit de atenção


“Estava assistindo televisão e conversando ao telefone com uma amiga quando minha mãe passou por mim. Trocamos olhares, mas não nos falamos. Ela foi para o quarto e se trancou. Minutos depois, ouvi um barulho muito forte e um gemido. Chamei por ela, mas ninguém respondeu. Arrombei a porta e me deparei com minha mãe daquele jeito... caída na cama, com um tiro no peito... Num ato de desespero, tentei reanimá-la. Mas seus os olhos estavam entreabertos e as pupilas dilatadas... Eu não podia fazer mais nada. Fechei suas pálpebras e, em choque, fui procurar ajuda.” Arianne Menezes, 27 anos, é paulistana. Fisioterapeuta, ficou órfã de mãe aos 18.



“Eu tinha 13 anos e estava de férias em Botucatu, na casa do meu pai, quando acordei com os gritos da minha avó, que morava com ele. Levantei da cama e corri para ver o que tinha acontecido. Cheguei na sala e ela me impediu de avançar. Dei a volta pela cozinha e, ao chegar na varanda ... Dei de cara com o corpo do meu pai pendurado... Ele enrolou o cordão de capoeira no pescoço, na viga do telhado... e tirou os pés do chão. Se tivesse esticado as pernas teria sobrevivido... Desesperado, o abracei e tentei levantá-lo. Queria tirá-lo dali. Comecei a perguntar porque tinha feito aquilo comigo. Fiquei ao lado do corpo até a polícia chegar.” Daniel Aragão, 27, também é paulistano e professor de capoeira — a mesma profissão do seu pai.



“Tento lembrar da minha mãe viva, mas é inevitável. Quando penso nela, vem a imagem do corpo na cama”

— Arianne Menezes As reticências dos depoimentos acima não são um recurso de estilo. Denotam um silêncio incômodo, uma lembrança dolorosa. Mostram a dificuldade que os filhos de suicidas têm em falar sobre a morte dos seus pais. “Faz quase 15 anos e até hoje procuro palavras para dizer como meu pai morreu”, diz Daniel. Embora as imagens do suicídio sejam recorrentes nos pensamentos desses jovens, eles dificilmente falam sobre elas. Quando o fazem, evidenciam o desconforto na linguagem corporal: franzem o cenho, tamborilam os dedos e se emocionam. “Tento lembrar da minha mãe viva, mas é inevitável. Quando penso nela, vem a imagem do seu corpo na cama. Não queria que fosse assim”, diz Arianne.



“Quando uma pessoa comete suicídio, as respostas vão com ela”

— Nancy Rappaport O trauma do suicídio é tão profundo e difícil de ser elaborado que a psiquiatra infantil americana, Nancy Rappaport, 47 anos, cuja mãe se matou quando ela tinha 4, decidiu escrever um livro sobre o assunto e transformou o próprio luto em um estudo sobre o impacto desse tipo de morte na vida dos filhos de quem o comete — In her wake (O despertar dela), lançado no fim do ano passado nos Estados Unidos, sem previsão de chegada ao Brasil. Na obra, Nancy também faz uma investigação sobre a vida da mãe. “Cresci com muitas questões: entender quem ela era, saber o quanto me amava e por que fez aquilo. Quando uma pessoa comete suicídio, as repostas vão com ela”, diz. “No meu trabalho, percebi que filhos de suicidas tinham dúvidas parecidas, que acabavam sufocadas porque ninguém falava delas. Não quero que ninguém sinta o que senti e, por isso, resolvi escrever o livro.”



As primeiras reações

“Quem vai me levar na escola, quem vai fazer o jantar, quem vai cuidar de mim quando eu estiver doente?” Essas são as primeiras perguntas que vêm à cabeça de uma criança quando recebe a notícia de que seu pai ou mãe se matou. A maneira que lidam com a informação varia com a idade. “Elas só conseguem entender que a morte é um fim irreversível entre os 10 e 12 anos. Antes disso, não concretizam essa informação”, diz a psiquiatra Alexandrina Meleiros, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Um estudo do psicólogo americano especializado em órfãos de suicidas Albert Cain, mostra que crianças de até 6 anos reagem como qualquer outro órfão e só vão entender que seus pais tiraram a própria vida anos mais tarde.



É comum que crianças dos 7 anos em diante neguem o suicídio dos pais. Alguns chamam de mentiroso o parente que deu a notícia. Outros simplesmente não registram o que ouviram e criam suas próprias versões para a morte. “Em geral, essas crianças têm raiva de quem deu a notícia. É um mecanismo psíquico necessário para entender o que realmente aconteceu”, diz a psicóloga Maria Helena Pereira Franco, do Instituto Quatro Estações em São Paulo, especializado em luto. Quando as crianças aceitam e entendem o suicídio, costumam se sentir culpadas e abandonadas, além de terem medo de que o genitor que sobreviveu possa se matar. Costumam desenvolver um terror noturno ou ter uma regressão de comportamento. “Perdi a confiança nas pessoas depois da morte do meu pai. Se ele, que me amava, se matou, porque outros não podem fazer a mesma coisa? Me apeguei à minha mãe — o maior medo da minha vida é perdê-la”, diz Daniel.



Quem se depara com o corpo do pai ou mãe mortos costuma ficar em choque e, na sequência, sentir pavor e raiva. Depois que fechou os olhos da mãe, Arianne desceu as escadas do sobrado onde morava. “Minha primeira reação foi procurar quem estava mais perto — fui chamar meu irmão, na época com 14 anos, que estava brincando na casa de um vizinho”, diz Arianne. “Quando dei a notícia, ele ficou atônito, começou a rodar em círculos, falando sozinho.



Perguntava para si mesmo, por que, como. Ligamos para o meu pai, que veio para casa. Ele chamou os bombeiros e, quando chegaram junto com a polícia, a casa ficou aberta. De repente começaram a chegar curiosos. Uma vizinha me disse que a decoração da minha casa era bonita. Aquilo me irritou tanto que parti para cima dela, para bater mesmo. Como podia dizer aquilo num momento como aqueles? Tiveram que me segurar. Chorei um pouco quando conversei com o delegado e expliquei como tinha encontrado o corpo dela. Minha ficha demorou para cair. Não me deixaram ver mais nada, não vi levarem ela embora. Naquela noite, fui para casa de uma amiga e não preguei o olho. Passei três noites fora e só consegui dormir de exaustão dois dias depois. Não chorei mais, nem no velório, parecia que eu estava anestesiada. Não queria ir ao enterro, mas meu pai pediu para eu me despedir dela. Na hora em que ela foi enterrada, me dei conta do que tinha acontecido. Desabei, chorei copiosamente e tive que sair no meio. Não consegui ver aquilo até o final.”



Daniel conta que, momentos após encontrar o corpo do pai, deu tantos chutes em uma mureta de casa, que a destruiu. “Me perguntava por que, por quê. Com raiva, não conseguia chorar. Achava que ele tinha sido covarde. Não me lembro bem como, os parentes e amigos começaram a chegar e me pediam calma. Todo mundo estava chorando mas eu não conseguia derramar uma lágrima. Furioso, eu gritava que ele não gostava mais de mim, que sabia exatamente o que tinha feito. Eu queria tirá-lo dali, como se sem a corda no pescoço ele pudesse voltar a vida. Pedia ajuda para desamarrá-lo, mas não podíamos mexer no corpo até a polícia chegar, me pediram para esperar. Na semana que se seguiu, continuei em Botucatu — meu pai mudou para lá depois que se separou da minha mãe, quando eu tinha dez anos, para dar aulas na Unesp e eu ia visitá-lo sempre. Passava todas as férias, os feriados, na casa dele... Acompanhei o velório, o enterro, mas estava com tanta raiva que não conseguia chorar. Demorei para entender, de fato, o que tinha acontecido e colocar as emoções para fora.”



Sentimento de culpa

A mãe da psiquiatra Nancy, que deu seu nome à filha, planejou o suicídio. Depois de dar à luz seis filhos, desenvolveu uma depressão. Morreu ao tomar dezenas de soníferos. “Tive o mesmo sonho durante anos. Eu era criança e entrava no quarto de mamãe. Ela estava na cama e só eu via o vidro de pílulas ao lado dela, mais ninguém conseguia. Depois, eu saía do quarto.” O tormento que o pesadelo trazia a Nancy estava ligado ao sentimento de culpa que ela carregava. “Só fui conversar sobre o suicídio depois de adulta. Na infância, lembro do meu pai dizer que ela ficou deprimida depois que nasci. Encarei a morte dela como minha responsabilidade. ‘Se eu não tivesse nascido’, pensava, ‘ela não teria se matado’. Sem os devidos esclarecimentos, muitas crianças agem da mesma forma. Fantasiam explicações e geralmente atribuem a culpa do suicídio para si.



Os pais de Daniel e Arianne não deixaram bilhetes nem deram sinais de que algo doloroso se passava com eles. A falta de explicações e de conversa também fez com que os jovens se culpassem pela morte deles. Daniel diz que só se libertou desse sentimento no final da adolescência. “Meu pai parecia muito feliz. Deu uma festa dois dias antes de morrer, parecia animado. Naquela noite, ele chegou tarde em casa. Eu estava dormindo, mas levantei para falar com ele, que estava comendo e assistindo televisão. Quando me viu, me puxou para perto dele e abraçou. Me deu um beijo, me chamou de doutor Daniel — como gostava — e mandou voltar para cama. Passei a adolescência me penitenciando por ter acatado. Achava que se tivesse passado a noite com ele, nada teria acontecido. Me livrei desse sentimento aos 16 anos, quando ouvi uma fita cassete com uma gravação dele tocando viola e dizendo coisas bonitas. Naquele momento, me dei conta de que meu pai tinha tirado a própria vida por vontade e que eu não podia ter feito nada. Chorei muito. A partir daí, passei a chorar quase todas as vezes em que falo dele.”



Arianne também se perguntava se poderia, de alguma forma, ter desagradado a mãe, o que poderia ter feito para evitar a tragédia. “Foi um choque para nossa família. Ela e meu pai estavam planejando uma segunda lua de mel. Naquele dia, estava meio abatida, chorou. Quando percebi que ela estava meio para baixo, perguntei se estava tudo bem. Como ela respondeu que sim, não dei muita atenção”, diz. “Mas durante muito tempo me questionei se não deveria ter perguntado mais, ter ficado do lado dela naquela hora. Me perguntava qual era minha participação na tragédia e por que ela tinha feito aquilo comigo se amava tanto os filhos como dizia. Depois, me dei conta de que nunca teria a resposta.”



A vida sem eles

“Passei a me sentir solitário nos anos que se seguiram à morte do meu pai. Ficava muito quieto, fechado. A sensação que eu tinha era de ter me trancado no meu quarto e que ali era o meu mundo. Continuei indo à escola, fazendo minhas atividades. Mas quando chegava a hora da saída, pensava que ele não iria mais me buscar como já tinha feito outras vezes, quando vinha a São Paulo. Parecia que tudo tinha ficado mais difícil — lembrava dele nos momentos mais improváveis. Não tinha vontade de ir às festas do colégio, da família. Chegava a ficar uma semana sem falar com ninguém. Até hoje, mesmo nos momentos em que fico feliz, sinto uma tristeza enorme. Porque quando acontece uma coisa muito boa, eu queria que ele estivesse vivo para dividir a alegria comigo”, diz Daniel.



Para verificar como reagem os filhos de suicidas, um grupo de médicos americanos liderado pelo psiquiatra infantil David Brent comparou o comportamento deles com o de outras crianças e adolescentes que perderam os pais repentinamente, em um acidente ou de forma natural. Enquanto as taxas de depressão entre os membros dos dois últimos grupos se estabilizaram cerca de um ano e meio depois da perda dos pais, a dos filhos de suicidas continuou a subir. Para a psiquiatra Nancy, existem duas explicações para esse fenômeno. A primeira é que a depressão pode surgir por causa do sentimento de culpa e de abandono. A segunda pode ser genética. Quase 50% das pessoas que tentam se matar têm algum transtorno de humor ou de personalidade.



Crianças e adolescentes que sofrem esse tipo de trauma podem apresentar dificuldades de aprendizado, além dos transtornos emocionais, segundo a psiquiatra Alexandrina. Isso porque, no momento de tensão ou perigo, o cérebro recebe altas doses de cortisol, como parte do processo da reação de defesa. Essa superdosagem do hormônio pode lesionar o hipotálamo e gerar sequelas. “Quanto mais cedo essas crianças fizerem tratamento psicológico e psiquiátrico, maior é chance de o cérebro se reorganizar e evitar prejuízos futuros.”



Arianne diz que se sentiu forte nos meses que se seguiram à morte da mãe, até perceber que não conseguia mais manter-se concentrada. Ao sentir que o trauma havia gerado uma mudança no seu comportamento, foi procurar ajuda. “Depois do enterro, achei que tinha de ser a forte da família porque meu pai e meu irmão estavam muito abalados. Assumi papéis dela, mandava meu irmão escovar os dentes, ir para cama. Evitava pensar no que tinha acontecido. Sempre fui brincalhona e depois que ela morreu, vivi uma espécie de alegria exagerada. Via graça e brincava com tudo. Tanto que nenhum dos amigos da faculdade desconfiou do que tinha acontecido. Passei meses naquele estado de excitação até perceber que estava com um déficit de concentração. Esquecia os trabalhos e o conteúdo das aulas. Não absorvia nada, nunca terminava uma tarefa. Seis meses depois da morte da minha mãe, fui fazer terapia. Foi só aí que comecei a falar do assunto com alguém. Ajudou demais, voltei a ter centro”, diz Arianne. “Tem dias que eu não acordo bem — e geralmente é porque estou com saudades dela. Nos Natais, fico triste, uns minutos em silêncio. Mas só. Não fiquei com raiva dela. Fiquei com raiva de Deus. Se Ele realmente existia, por que tinha feito aquilo comigo? Demorei sete anos para aceitar que tinha raiva. Depois de trabalhar esse sentimento, me dei conta de que não conseguiria viver sem acreditar em nada. Sem a crença em algo maior, minha vida perdia o sentido. Sonhei poucas vezes com minha mãe. Geralmente, ela me abraça e eu sinto a presença física mesmo. Não lembro de diálogos. Os sonhos acontecem quando estou com algum problema. Ela vem me dar conforto mesmo, sinto o toque físico dela. Inclusive, é disso que eu sinto mais falta. Tem coisas que a gente só conversa com mãe. Minha família convencional acabou. Vejo pouco meu pai e meu irmão, o que me incomoda. Parece meio careta, mas sinto falta de ter esse núcleo. Como o sofrimento foi solitário, acabamos nos tornando meio egoístas.”



Sublimação da dor

Tanto a psiquiatra Nancy como Daniel partiram para a pesquisa para descobrir quem eram seus pais. Nancy escreveu o livro. “Eu sabia pouco sobre minha mãe. Não sabia sequer qual era a cor predileta dela. Ao pesquisar com parentes, amigos e jornais da época, descobri que ela era uma líder comunitária com aspirações políticas. Tinha depressão e o fato de ter tirado a vida não significa que não me amava. Graças a esse trabalho pude ter, de alguma forma, um longo contato com ela”, diz Nancy.



“Fazer algo produtivo com a tragédia é o que nós chamamos de sublimação da dor”

— Alexandrina MeleirosDaniel, que prepara um documentário, descobriu que o pai foi um capoeirista importante, responsável por levar o esporte para o exterior. “Aos 18 anos, comecei a pesquisar. Perguntava o que ele fazia e do que gostava para amigos e parentes; pedia para me contarem histórias. Descobri que ele também era músico”, diz. “Comecei a praticar capoeira para dar continuidade ao que ele fazia.” Daniel foi divulgar o esporte na Ásia. “Fazer algo produtivo com uma tragédia é a sublimação da dor”, diz Alexandrina.



Arianne conheceu bem a mãe. “Ela era pedagoga, parou de trabalhar para cuidar da família. Era linda e super vaidosa. Fico satisfeita com os valores que ela passou. Poderia ter ficado depressiva e rancorosa com o que aconteceu, mas tenho uma profissão, me sustento e, principalmente, busco a felicidade. Penso na minha mãe todos os dias. É claro que sinto uma saudade imensa. Mas acabou apenas para ela. Eu continuo aqui.”

terça-feira, 18 de maio de 2010

90% dos Suicídios são ligados à Depressão

Tratamento para depressivos erradica suicídio, diz estudo dos EUA


Cerca de 33 mil se suicidam anualmente nos Estados Unidos.

Lá, doença mental atinge 90% das pessoas que tiram a própria vida.

France Presse

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Um amplo programa de tratamento de pessoas depressivas, testado em um hospital de Michigan (norte dos Estados Unidos), permitiu a erradicação total dos suicídios há dois anos, indica um estudo publicado nesta terça-feira (18) nos Estados Unidos.



A pesquisa figura em uma edição especial da revista "Journal of the American Medical Association" sobre saúde mental.



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Pais também sofrem de depressão pré-natal ou pós-parto, diz pesquisa Impulsos elétricos em zona cerebral podem curar depressão Na mostra de pacientes estudados, a taxa de suicídios caiu 75% nos quatro primeiros anos, passando de 89 para cada 100 mil a 22, uma redução significativa. Posteriormente, durante dois anos e meio, a taxa de suicídio caiu para zero.



"Estes resultados alentadores sugerem que esse programa de cuidados pode ser altamente eficaz", indicou à AFP o doutor Edward Coffey, que dirige os serviços de saúde comportamental dos hospitais Henry Ford em Detroit (Michigan).



O programa compreende, entre outros, uma avaliação sistemática dos riscos de suicídio, psicoterapias comportamental, a proibição de ter arma em casa, o estabelecimento de contato constante por consultas, telefones, visitas e e-mails.



Cerca de 33 mil pessoas se suicidam anualmente nos Estados Unidos, e 90% delas sofrem um episódio de doença mental, na maioria das vezes depressão.



Entre os fatores de risco do suicídio estão os antecedentes familiares, o abuso de álcool, de drogas ou de medicamentos, a violência familiar, as agressões sexuais, a prisão e a posse de armas, que estão presentes em mais de um suicídio em cada dois nos EUA.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Prevenção do Suicídio

Valentim Lorenzetti



Espalham-se, atualmente, por todo o mundo, os chamados "centros-de-socorro-telefônico", destinados a dar apoio às pessoas desesperadas prestes a se suicidar. 0 trabalho pioneiro nesse setor de atividade teve início há quase vinte anos, na Inglaterra, liderado por um ministro da Igreja Anglicana, o rev. Chad Varah.



A história do primeiro centro-de-socorro-telefônico do mundo e a luta do i rev.Chad Varah, merecem ser conhecidas. Logo após o término da segunda guerra mundial, crescia espantosamente o número de suicídios na Inglaterra. Chad Varah, impressionado com essa trágica estatística, resolveu arregaçar as mangas e instituir um serviço que pudesse dar apoio moral e calor humano às pessoas desesperadas. Expôs seus planos a seus superiores hierárquicos, e estes lhe concederam, para instalar o centro de atendimento, uma velha igreja (de Santo Estevão), parcialmente destruída pelos bombardeios.



As paredes fendidas do velho templo não assustaram o reverendo. Os porões da igreja estavam praticamente intactos e, ali, decidiu ele começar o seu trabalho, instalando o que denominou "Os Samaritanos" Após estafante trabalho de arrumação no local, remoção dos escombros e higienização do ambiente, Chad Varah decide solicitar à companhia telefônica a concessão de um número de Fácil memorização para ser instalado na sede do plantão. Levanta do gancho o telefone empoeirado pelos bombardeios e chama a telefonista a quem expôs seus objetivos. Resposta do outro lado da linha:



"Sim, nós poderemos verificar o que é possível fazer. Por favor, dê‑me o número de seu telefone. Nós o avisaremos assim que tivermos uma resposta".



Chad Varah limpa a poeira com a manga da sotaina, e descobre o número do telefone da igreja de Santo Estevão. Nesse instante a emoção lhe embarga a voz. Mesmo assim consegue dizer à telefonista



- Desculpe-me, não é preciso arranjar outro número. 0 meu telefone é 9 000.



Começou, assim, com grande emoção, a funcionar o primeiro telefone de atendimento a desesperados de viver, no mundo: É até hoje conhecido e muito atuante "Mansion House 9000 - telefone da amizade". E Londres toda foi inundada por cartazes anunciando o funcionamento de "Os Samaritanos" ; atualmente, a organização está com filiais em vários outros bairros londrinos e em algumas das cidades mais importantes da Inglaterra. Chad Varah, o simpático ministro anglicano, continua à frente dos trabalhos. Seus plantonistas voluntários atendem por telefone e pessoalmente, iniciando geralmente o contato com o suicida em potencial por telefone e terminando com um "tête-à-tête" no plantão da organização. Inspirados nos "Samaritanos", surgiram a seguir outros centros de prevenção ao suicídio. Logo a seguir, por exemplo, os franceses fundaram, em Paris, o "SOS 1 " Amitié, que hoje tem ramificações por toda a França, atendendo somente por telefone e jamais fornecendo o endereço a quem quer que seja. É também integrado por voluntários.



NO BRASIL

Quando, há quase dez anos, o eng. Jacques Conchon, expôs em Londres, ao rev. Chad Varah, o sistema de funcionamento do recém‑fundado "CVV - Centro de Valorização da Vida", o ministro anglicano afirmou:



"Veja, meu amigo, vocês lá no Brasil e nós, aqui na Inglaterra, sem nos conhecermos, pertencemos a um trabalho que funciona em moldes idênticos. Até parece que, ao fazer as normas do CVV, vocês usaram um papel-carbono sob as normas de trabalho de "Os Samaritanos Fica, assim, mais uma vez, comprovada a atuação do Alto unindo os homens em torno dos trabalhos de assistência ao próximo. Continuem com a tarefa. Deus saberá recompensar todos os sacrifícios".



E, daquele encontro até hoje, o CVV não deixou de funcionar. Os sacrifícios, os obstáculos, vão sendo vencidos aos poucos. Existindo há quase 10 anos como personalidade jurídica, o "Centro de Valorização da Vida", de São Paulo, é hoje uma entidade de Utilidade Pública Municipal e registrada em todos os órgãos de assistência médica e social do Estado e do País. Atualmente funciona em sede própria, à rua Francisca Miquelina 323, conj. 24, atendendo diariamente, inclusive domingos e feriados, pelo telefone 33.2050, das 16 às 22 horas. Não foi possível, ainda, ampliar a faixa de atendimento do plantão, por falta de pessoal habilitado, que deve .ser necessariamente espírita e voluntário; nenhum elemento do CVV é remunerado a partir dos membros de sua diretoria. 0 período das 16 às 22 horas, em que funciona o plantão, foi estabelecido consultando-se as estatísticas de suicídio e tentativas na capital de São Paulo: é a faixa onde ocorre maior número de suicídios.



Atualmente, o CVV está empenhado na construção da "Clínica de Repouso Francisca Júlia", para doentes mentais sem recursos, cuja primeira fase está sendo concluída. A Clínica localiza-se no bairro do Torrão de ouro, município de São José dos Campos,. nas margens da estrada que leva á Caraguatatuba 0 projeto final da obra é para 400 leitos; a primeira fase comportará 40 leitos. Destina-se a Clínica, a atender á pequena porcentagem (10%) de suicidas em potencial que são doentes mentais e, também, a atender a doentes mentais sem recursos do Vale do Paraíba. Será o primeiro sanatório do mundo especializado no tratamento de doentes mentais suicidas em potencial.



0 CVV é mantido pela, contribuição de associados, que, atualmente, estão se filiando em torno de um montepio - o "Montepio da Valorização", autorizado pelo Governo Federal pelo qual cada associado passa a colaborar com a mensalidade de Cr$ 14,00, e, automaticamente a formar um pecúlio para seus de dependentes, após sua morte. Trata-se de uma forma de arrecadação de fundos, que, a médio e longo prazo, deverá transformar-se no sustentáculo financeiro da instituição, e, principalmente, da "Clínica de Repouso Francisca Júlia". Atualmente a entidade luta ainda com grandes dificuldades financeiras, empenhando-se todos seus plantonistas em campanhas de arrecadação para conclusão do sanatório, onde, até fins de agosto de 1971, a entidade já havia investido quase 300 mil cruzeiros. Dessa importância, o governo do Estado colaborara somente com 35 mil cruzeiros.



RESULTADOS

Desde que começou a funcionar, em caráter experimental, até hoje, o CVV já atendeu a quase duas mil pessoas que estavam realmente dispostas a se matar. Destas infelizmente, quatro se suicidaram realmente, não tendo sido possível ao CVV recuperá-las para a vida. Entretanto, o índice de recuperação é considerado excelente pelos dirigentes da entidade, o que os anima a prosseguir na luta apesar das enormes dificuldades



Em princípios de 1971, a entidade lançou uma ramificação em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, entregando a responsabilidade do funcionamento da filial gaúcha a duas abnegadas professoras, que tiveram a iniciativa de enfrentar, no Sul, o trabalho de prevenção do suicídio. Aliás, uma das finalidades do CVV é a de instalar postos de atendimento nas principais capitais do país e nas grandes cidades do Estado de S. Paulo à medida em que forem surgindo, nessas cidades, elementos de boa-vontade, o CVV irá orientando e fornecendo todo o programa de preparação de plantonistas.



0 problema do suicídio em nossa sociedade, ainda é cercado de uma série de tabus e frases feitas. Por exemplo: : "Quem quer se matar não avisa". È uma frase-feita, repetida indefinidamente, sem qualquer fundamento em fatos. A experiência do CVV e dos demais centros de socorro telefônico instalado em outros países demonstra que o suicida em potencial dá muitos avisos. Na maioria das vezes, entretanto, tais aviso,- não são compreendidos por amigos e familiares; e a pessoa acaba se matando. Quando o indivíduo dispõe de um telefone, como o do CVV, ele se agarra realmente a esse telefone, que lhe representa a tábua lançada no oceano revolto, onde ele, náufrago da vida, poderá se agarrar. 0 plantonista do CVV oferece amizade ao suicida em potencial ; a amizade tão difícil de ser encontrada hoje em dia. Não proporciona auxílio financeiro nem o ajuda diretamente a solucionar seus problemas; proporciona-lhe o desabafo e o apoio moral, encorajando-o a enfrentar os problemas com renovada disposição. É a própria valorização da vida; superada a, crise suicida, o indivíduo não se sentirá dependente de ninguém e terá condições de enfrentar seus problemas.



"Suicídio se resolve com aumento de salário", é outra frase-feita absurda. 0 problema financeiro é o que menos pesa na decisão de suicídio de uma pessoa. Os motivos que levam realmente as pessoas a pensar em auto-destruição estão ligados, em sua esmagadora maioria, ao campo afetivo. É a chamada deterioração afetiva, que leva a pessoa, fatalmente, a sentir-se só. Um solitário no meio da multidão. Um indivíduo carente de amizade, de alguém que o considere digno de ser ouvido. E o CVV considera dignes de atenção todos que lhe batem às portas ou discam o número de seu telefone. Mesmo que o indivíduo faça a ligação telefônica para aplicar um "trote" no plantonista. Todos recebem amizade.



Atualmente o CVV conta com a colaboração de 45 plantonistas voluntários, entre homens e mulheres, atendendo a uma média de 15 casos de suicidas em potencial por mês. Seus plantonistas são indivíduos de boa-vontade que antes de ingressarem no trabalho, são obrigados a freqüentar um curso especializado. 0 atendimento é feito seguindo as normas da chamada "psicoterapia de apoio", e, quando necessário, a entidade se vale da colaboração de médicos psiquiatras, que também voluntariamente atendem às pessoas que lhes são encaminhadas. Não há doutrinação religiosa em nenhum atendimento; o CVV mantém contate com todas as religiões, e, desde que o indivíduo se mostre interessado, é encaminhado para a religião desejada.



A norma básica do atendimento, que é seguida por todo plantonista, resume-se numa frase: "Saber ouvir os problemas da pessoa". Conhecidos os problemas, usar as armas disponíveis pelo próprio indivíduo para que tais problemas sejam superados. É evidente que em tal atendimento entra a Religião como impulsionador maior: a Religião Cristã, que manda servir desinteressante



(Revista Internacional de Espiritismo – Março de 1972)

Suicídio

Sérgio Biagi Gregório

RESUMO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. Causas do Suicídio: 4.1. Perspectiva Biológica; 4.2. Teorias Psicológicas; 4.3. Sentido Sociológico. 5. Estatística. 6. Centros de Prevenção. 7. Doutrina Espírita: 7.1. Anotações Extraídas das Obras Básicas de Allan Kardec; 7.2. Anotações Extraídas das Obras Complementares; 7.3. Reflexões Baseadas nos Pressupostos Espíritas. 8. Conclusões. 9. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

Quais são as causas que nos levam a tentar o suicídio? Por que um indivíduo apodera-se da direção de um avião e se transforma num homem-bomba? Tem o homem o direito de tirar a sua própria vida? Por que? Quais as conseqüências deste ato fatal na vida humana? Estas são, entre muitas outras, questões vitais para o entendimento do problema do suicídio. O nosso objetivo é analisar o tema segundo os pressupostos espíritas.

2. CONCEITO

Dado que o suicídio afeta todos os aspectos da vida humana, ele deve ser estudado levando-se em conta os componentes físicos, sociais, mentais etc. e que, em conseqüência, obedece a uma causação múltipla. A cada um desses componentes corresponde um ângulo de análise, e a cada ângulo, uma definição patológica, sociológica, moral, filosófica etc. Estas não devem ser necessariamente contraditórias, mas complementares. (Silva, 1986)


De um modo geral, define-se suicídio como a ação pela qual alguém põe intencionalmente termo à própria vida. É um ato exclusivamente humano e está presente em todas as culturas.


Do ponto de vista da Doutrina Espírita, o suicídio é considerado um crime, e pode ser entendido não somente no ato voluntário que produz a morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais. Importa numa transgressão da Lei Divina. É sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do Criador. (Equipe da FEB, 1997)


3. HISTÓRICO


Percorrendo a história da humanidade, notamos que na Antigüidade os hebreus foram os que menos cometeram o suicídio. As Escrituras registram apenas o suicídio de Abimileque, de Saúl, de Aquitofel, de Zambri e pouco mais.


Nos povos orientais, o suicídio é um fato vulgar e normal. Os japoneses adotam o haraquiri, ritual de suicídio usando a espada. São famosos os camicases, pilotos japoneses, membros de um corpo de voluntários que no fim da 2.ª Guerra Mundial, treinados para desfecharem um ataque suicida contra objetivos inimigos, especialmente navios. Na Índia não se contam os suicídios senão aos milhares.


Na história do Egito, tornou-se célebre o suicídio de Cleóprata.


Em Cartago eram também freqüentes os suicídios. Amílcar matou-se humilhado por uma derrota e Aníbal suicidou-se para não cair nas mãos dos seus inimigos. Códio, rei de Atenas, matou-se para livrar o seu país dos horrores da guerra.


Na Idade Média, período caracterizado por uma maciça dominação religiosa, o suicídio diminuiu, pois quem o cometesse não recebia as bênçãos da Igreja. Na renascença, período de maior liberdade religiosa, o suicídio recrudesceu e continua até nos dias atuais, principalmente explicados pelos problemas causados pela Revolução Industrial e pelo Capitalismo nascente, os quais diminuíram os apelos à Religião. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)


4. CAUSAS DO SUICÍDIO

As causas do suicídio são numerosas e complexas. Elas são geralmente analisadas sob três aspectos:


4.1. PERSPECTIVA BIOLÓGICA


Pesquisas indicam que o comportamento suicida acontece em famílias, sugerindo que fatores biológicos e genéticos desempenham papel de risco. Algumas pessoas nascem com certas desordens psiquiátricas tal como a esquizofrenia e o alcoolismo, o que aumenta o risco de suicídio.


4.2. TEORIAS PSICOLÓGICAS


Em princípio o suicídio é comparado por muitos psicológicos com os casos de neurose.


Os determinantes do suicídio patológico estão nas perturbações mentais, depressões graves, melancolias, desequilíbrios emocionais, obsessões, delírios crônicos,


O psiquiatra americano Karl Menninger elaborou sua teoria baseando-se nas idéias de Freud. Ele sugeriu que todos os suicidas tem três dimensões inconscientes e interrelacionadas: vingança/ódio (desejo de matar); depressão/desespero (desejo de morrer); culpa/pecado (desejo de ser morto).


4.3. SENTIDO SOCIOLÓGICO


Socialmente o suicídio é um ato que se produz no marco de situações anômicas (desorganizadas) em que os indivíduos se vêem forçados a tirar a própria vida para evitar conflitos ou tensões inter-humanas, para eles insuportáveis. Para Émile Durkheim, a causa do suicídio só pode ser sociológica. Em seu estudo caracterizou três tipos de suicidas:

a) suicida egoísta. A pessoa se mata para não sofrer mais;

b) suicida altruísta. A pessoa se mata para não dar trabalho aos outros (geralmente pessoas de idade);

c) suicida anômico. A pessoa se mata por causa dos desequilíbrios de ordem econômica e social. Exemplo: a Revolução Industrial, tirando empregos de algumas pessoas, estimulou-lhes o suicídio. (Enciclopédia Encarta)


5. ESTATÍSTICA


A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou em 1 milhão o número de suicídios em 2000. De acordo com a organização, a média anual de suicídios no mundo passou de 10,1 a cada 100.000 habitantes, em 1950, para 16 casos no mesmo universo de pessoas em 1995, o que corresponde a um aumento de 60%.


Países do Leste Europeu são os recordistas em média de suicídio por 100.000 habitantes. A Lituânia (41,9), Estônia (40,1), Rússia (37,6), Letônia (33,9) e Hungria (32,9). Guatemala, Filipinas e Albânia estão no lado oposto, com a menor taxa, variando entre 0,5 e 2. Os demais estão na faixa de 10 a 16.


Em números absolutos, porém, a China lidera as estatísticas. Foram 195 mil suicídios no ano de 2000, seguido pela Índia com 87 mil, a Rússia com 52,5 mil, os Estados Unidos com 31 mil, o Japão com 20 mil e a Alemanha com 12,5 mil. (Folha de São Paulo, 05/07/2000, p. a11).


Resumindo: na Ásia e Oriente a taxa de suicídio por 100.000 habitantes é mais do que 16, na América do Norte situa-se entre 8 e 16, na América do Sul apresenta-se com menos de 8 e na África não há dados disponíveis.


Gertner calcula que por cada suicídio completado há 10 tentativas. Os homens tendem a se suicidar de modo violento; as mulheres de modo suave e em menor proporção.


Observação: há que se tomar cuidado na comparação estatística entre nações, porque nem todos têm o mesmo conceito do que seja morrer por suicídio.


6. CENTROS DE PREVENÇÃO


O Reverendo Chad Varah, de 89 anos, é o criador do serviço de prevenção ao suicídio. Samaritanos é o nome britânico da ONG cuja similar brasileira funciona desde o início dos anos 60 como CVV, Centro de Valorização da Vida.


Pastor anglicano, Chad Varah começou seu trabalho em 1936, quando foi chamado para oficiar o funeral de uma menina de 14 anos. A garota havia se suicidado ao ficar menstruada pela primeira vez. Desesperada, pensou que havia contraído uma doença. Esse episódio chocou de tal maneira o jovem reverendo que ele resolveu dar aulas de educação sexual para jovens. Descobriu depois, numa notícia de jornal, que três pessoas se suicidavam a cada dia em Londres. Foi assim que, em 1953, numa pequena sala munida de telefone na Igreja de St. Stephen, no centro londrino, ele fundou os Samaritanos. (Folha de São Paulo, 24/06/2001, p. A 19)


Atualmente há muitos Centros como esses, inclusive com endereço na Internet. No Brasil, além do CVV, há também o Socorro Emocional, que do mesmo modo que o CVV, segue os preceitos do psicólogo norte-americano Carl Rogers (1902-1987), cuja tese é a de que todo o ser humano tem potencial suficiente para encontrar saídas para o seu próprio problema.


7. DOUTRINA ESPÍRITA


7.1. ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DAS OBRAS BÁSICAS DE ALLAN KARDEC


Em O Livro dos Espíritos, nas perguntas 943 a 957, Allan Kardec discute o tema apontando as causas e as conseqüências deste ato sinistro. Diz-nos que o desgosto pela vida é efeito da ociosidade, da falta de fé e geralmente da saciedade. Para aqueles que exercem as suas faculdades com um fim útil e segundo as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido a vida se escoa mais rapidamente. Os Espíritos nos advertem que quando cometemos o suicídio responderemos como por um criminoso. Acrescenta ainda que "aquele que tira a própria vida para fugir à vergonha de uma ação má, prova que tem mais em conta a estima dos homens que a de Deus, porque vai entrar na vida espiritual carregado de suas iniquidades, tendo-se privado dos meios de repará-las durante a vida. Deus é muitas vezes menos inexorável que os homens: perdoa o arrependimento sincero e leva me conta o nosso esforço de reparação; mas o suicídio nada repara".


Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo V - Bem-Aventurados os Aflitos, analisa o suicídio juntamente com a loucura, e nos diz que "a calma e a resignação, hauridas na maneira de encarar a vida terrestre, e na fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio". A leitura atenta deste capítulo do Evangelho seria um preservativo para todos os males da humanidade, pois não só nos explica os meios de nos livrarmos da pena como também nos alerta para o bem e o mal sofrer, sobre a melancolia etc.


Em O Céu e o Inferno, no capítulo V, há relatos dos próprios suicidas sobre o seu estado infeliz na erraticidade. Verificando cada um deles, vamos observar que, embora o sofrimento seja temporário, nem por isso deixa de ser difícil, pois o remorso parece não ter fim.


7.2. ANOTAÇÕES EXTRAÍDAS DAS OBRAS COMPLEMENTARES


No livro Memórias de um Suicida, fala-se do vale dos suicidas, ou seja, o lugar para onde vão as almas daqueles que cometeram o suicídio. Por que vale? É um lugar que tem um desnível com relação ao plano? Dá-se a impressão que todos os que cometem o suicídio vão para esse lugar de sofrimento atroz, em que figuras dantescas aparecem a todo o momento, e o indivíduo que cometeu o suicídio fica sentindo os germes comerem o seus restos mortais.


Em Mecanismos da Mediunidade, o Espírito André Luiz, ao discutir sobre a ideoplastia do pensamento, fornece-nos elementos para a nossa reflexão sobre este tema. Se muitos ficam pensando no suicídio, eles criam um campo mental, uma espécie de aura de formas- pensamentos, e se um Espírito menos avisado entrar nessa faixa vibratória, ele poderá ser induzida ao cometer este ato. Por isso, precisamos tomar cuidado com o teor energético do nosso pensamento, pois uma vez emitido ele criará as forças desencadeantes para a ação.


7.3. REFLEXÕES BASEADAS NOS PRESSUPOSTOS ESPÍRITAS


1. Continuar Vivo. Um dos grandes embaraços de quem comete o suicídio, pensando que teria dado cabo da vida, é a surpresa de que continua vivo. Nesse sentido, de que vale tirar-nos a vida, se continuamos a existir?


2. Atenuantes e Agravantes. Não temos o hábito de relacionar a parte e o todo e podemos cair no erro da absolutização do relativo. É o caso de estigmatizar todos os Espíritos que cometeram suicídio, colocando-os num mesmo grau de sofrimento e punição. Há que se considerar a influência que receberam dos outros, os seus estados mentais etc. Será que nós, com o nosso modo impensado de agir, não os induzimos involuntariamente? Será que a sociedade, pelo seu descaso, não deixou de auxiliá-los, quando podia fazê-lo?


3. O Espírita tem de opor-se à idéia do suicídio. A certeza da vida futura lhe dá condições de saber que será menos ou mais feliz de acordo com a resignação com que tiver suportado os sofrimentos aqui na Terra.

4. Suicídio inconsciente. O relato do Espírito André Luiz, quando estava no umbral - e ouvia chamá-lo de suicida -, é marcante, pois mesmo não o tendo cometido voluntariamente, dissipou desordenadamente as suas energias físicas e mentais. No campo mental, a cólera, a falta de autodomínio e inadvertência no trato com os semelhantes; no campo físico, o aparelho gástrico foi destruído à custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas.


5. Orar e vigiar. Nunca se deve dar tanta atenção a este dispositivo da mente. Há muitos momentos de angústia, de solidão, mas temos que passar por cima como um trator que vai moendo tudo o que lhe vem de encontro. Utilizando-nos da prece e da vigilância, podemos aliviar muitos desses males do pensamento.


8. CONCLUSÕES


Enfrentemos a nossa vida, pois não podemos ter outra. Lembremo-nos de que o problema pode não ser tão grave quanto a nossa imaginação o pinta. Quem sabe se esperarmos um pouco mais, exercitando a paciência e a resignação, a dificuldade não toma outro rumo, a doença não recebe o remédio correto, o desgosto não tem o consolo necessário? Depositemos a nossa confiança inteiramente em Deus. Ele sabe o momento oportuno de nos tirar do embaraço.

Palavra dos Espíritos

Difícil seria abranger, no simples capítulo de um livro, problema tão angustioso e sombrio, que se tem agravado, ultimamente, nas comunidades terrestres, elevando as estatísticas mundiais.

Que poderá levar o homem a recorrer ao gesto extremo?

Eis a pergunta, inquietante, que a mente humana formula, em todos os continentes, em face da incidência de suicídios em milhares e milhares de lares do mundo - em lares humildes, em lares de mediana condição, em palácios suntuosos!...

Anotaríamos, em tese, as principais motivações, crendo, no entanto, que outros estudiosos do assunto possam aduzir novas razões, às quais acrescentaríamos, evidentemente, as por nós relacionadas:

- Falta de fé;

- Orgulho ferido;

- Esgotamento nervoso;

- Loucura;

- Tédio da vida;

- Moléstias consideradas incuráveis;

- Indução de terceiros, encarnados ou desencarnados.

Acreditamos, firmemente, que a falta de fé responde pela quase totalidade dos suicídios.

A fé é alimento espiritual que, fortalecendo a alma, põe-na em condições de suportar os embates da existência, de modo a superá-los convenientemente.

A fé é mãe extremosa da prece.

E quem ora com fé tem o entendimento aclarado e o coração fortalecido, eis que, segundo Emmanuel, quando a dor nos "entenebrece os horizontes da alma", subtraindo-nos "a serenidade e a alegria, tudo parece escuridão envolvente e derrota irremediável", induzindo-nos ao desânimo e insuflando-nos o desespero; todavia, SE ACENDEMOS NO CORAÇÃO "LEVE FLAMA DA PRECE, FIOS IMPONDERÁVEIS DE CONFIANÇA" ligam-nos o ser a Deus.

Analisando as demais causas, observamos que todas elas tiveram por germe, aqui e alhures, na Terra ou noutros mundos, nesta ou em encarnações pretéritas, a ausência da fé.

O orgulho ferido é, também, falta de fé, porque a fé conduz à humildade profunda, e esta é inimiga do orgulho.

É o seu melhor, o seu mais poderoso antídoto.

O orgulho ferido pode levar o homem a sérios desastres que se perpetuarão, durante séculos, em seu carma.

O esgotamento nervoso, que poderia ser evitado, no seu começo, se movimentados pudessem ter sido os recursos da "oração, filha da fé", pode conduzir o ser humano, nessa altura já fortemente assediado por forças obsessoras, ao extremo gesto.

A loucura, por sua vez, responde por elevado número de deserções do mundo.

E o chamado "tédio da vida"?

Quantas cartas foram deixadas por suicidas referindo-se ao "cansaço da vida" e implicações correlatas?

Por quê? AUSÊNCIA DE FÉ, evidentemente da fé que reside e brota dos escaninhos mais sagrados e mais profundos da alma eterna.

Sim, há muita fé que existe, apenas, nos lábios.

A fé iluminada pela razão, que é a fé espírita, capaz de encarar o raciocínio "face a face, em todas as épocas da humanidade", suporta e vence, resiste e transpõe os mais sérios obstáculos, inclusive os relacionados com uma existência dolorosa, sob o aspecto moral ou físico, fértil em aflitivos problemas.

Quem tem fé não deserta da vida, pois sabe que os recursos divinos, de socorro à humanidade, são inesgotáveis.

Não esvaziam os mananciais da misericórdia de Deus!

Ante moléstia considerada incurável, procura o enfermo, algumas vezes, no suicídio, a solução do seu problema.

Infeliz engano, pois a ninguém é lícito conhecer até onde chegam os recursos curadores da Espiritualidade Superior, que é a representação da Magnanimidade Divina.

Quantas vezes amigos de Mais Alto intervém, prodigiosamente, quando a Medicina, desalentada, já ensarilhara a armas, por esgotamento dos próprios recursos?!...

Há outro tipo de suicídio, aquele que resulta da indução, sutil ou ostensiva, de terceiros, encarnados ou desencarnados, especial e mais numerosamente dos desencarnados, não sendo demais afirmar, por efeito de observação, que a quase totalidade dos auto-extermínios foi estimulada por entidades perversas, inimigas ferrenhas do passado, que, ligando-se ao campo mental de quantos idealizam, em momento infeliz, o suicídio, corporificam-lhe, na hora adequada, a sinistra idéia.

Julgamos ter analisado, com razoável acervo de exemplos, as causas mais freqüentes do suicídio. VOLTAR

Estudemos, agora, o quadro geral da situação dos trânsfugas da vida, após a morte.

A ilusão do suicida é de que, com a extinção do corpo, cessam problemas e dores, mas a palavra de André Luiz, revestida da melhor essência doutrinária, informa que sai ele do sofrimento, PARA ENTRAR NA TORTURA...

Relatos de antigos suicidas e obras especializadas, de origem mediúnica, falam-nos, inclusive, de vales sinistros, onde se congregam, em tétricas sociedades, os que sucumbiram no auto-extermínio.

Nessas regiões, indescritíveis na linguagem humana, os quadros são terríveis.

Visão constante das cenas do suicídio, seu e de outrem.

Recordação, aflitiva, dos familiares, do lar distante, dolorosamente perdidos na insânia.

Saudade da vida - vida que o próprio suicida não soube valorizar, por lhe haver faltado um mais de confiança na ajuda de Deus, que tem sempre o momento adequado para chegar...

Outras vezes, solidão, trevas, pesadelos horrendos, com a sensação, da parte do infeliz, de que se encontra "num deserto, onde os gritos e gemidos têm ressonâncias tétricas".

Os mais variados efeitos psicológicos e as mais diversas repercussões morais tornam a presença do suicida, no mundo espiritual, um autêntico inferno, onde estagiará não sabemos quanto tempo, tudo dependendo de uma série de fatores que não temos condições para aprofundar, eis que inerentes à própria Lei de Justiça.

Ataques de entidades cruéis.

Acusações e blasfêmias.

Sevícias e sinistras gargalhadas povoam a longa noite dos que não tiveram coragem para enfrentar o tédio, a calúnia, o desamor, a desventura...

Se pudessem os homens levantar uma nesga da Vida Espiritual e olhar, à distância, as cenas de torturante sofrimento a que são submetidos os suicidas, diminuiriam, por certo, as estatísticas, mesmo nos mais conturbados e infelizes continentes.

O Espiritismo, descortinando tais horizontes, dizendo aos homens que a vida é patrimônio de Deus, que lhes não cabe destruir, cumprirá na Terra sua augusta missão de acabar com os suicídios.


E agora, afinal, apreciemos as conseqüências com vistas às futuras existências.

Se a tortura do Espírito, após o suicídio, é horrível, seu retorno ao mundo terreno, pela reencarnação, far-se-á na base das mais duras penas.

Reencarnações frustradas, isto é, que se interromperão quando maior for o desejo de viver, o "anseio de vida"- vida que ele não teve fé suficiente para valorizar.

No capítulo das enfermidades impiedosas, preferível darmos a palavra a Emmanuel, que, em notável estudo, sintetizou todas as conseqüências:

"Os que se enveneneram, conforme os tóxicos de que se valeram, renascem trazendo as afecções valvulares, os achaques do aparelho digestivo, as doenças do sangue e as disfunções endócrinas, tanto quanto outros males de etiologia obscura; os que incendiaram a própria carne amargam as agruras da ictiose ou do pênfigo; os que se asfixiaram, seja no leito das águas ou nas correntes de gás, exibem processo mórbidos das vias respiratórias, como no caso do enfisema ou dos cistos pulmonares; os que se enforcaram carreiam consigo os dolorosos distúrbios do sistema nervoso, como sejam as neoplasias diversas e a paralisia cerebral infantil; os que estilhaçaram o crânio ou deitaram a própria cabeça sob rodas destruidoras, experimentam desarmonias da mesma espécie, notadamente as que se relacionam com o cretinismo, e os que se atiraram de grande altura reaparecem portando os padecimentos da distrofia muscular progressiva ou da osteíte difusa.

Segundo o tipo de suicídio, direto ou indireto, surgem as distonias orgânicas derivadas, que correspondem a diversas calamidades congênitas, inclusive a mutilação e o câncer, a surdez e a mudez, a cegueira e a loucura, a representarem terapêutica providencial na cura da alma."

O suicídio, longe de ser a porta da salvação, é o sombrio pórtico de inimagináveis torturas.

Que nenhum ser humano, em lendo estas considerações doutrinárias, homem ou mulher, consinta a permanência em sua mente, UM INSTANTE SEQUER, da sinistra idéia de exterminar a própria vida, a fim de evitar que, sob o estímulo e a indução de adversários cruéis, venha a cometer a mais grave das infrações às leis divinas.

Este o apelo que o Espiritismo, por seus humildes expositores, faz descer sobre os corações sofredores.

Quais as primeiras impressões dos que desencarnam por suicídio?

A primeira decepção que os aguarda é a realidade da vida que se não extingue com as transições da morte do corpo fisíco, vida essa agravada por tormentos pavorosos , em virtude de sua decisão tocada de suprema rebeldia.

Suicidas há que continuam experimentando os padecimentos físicos da última hora terrestre , em seu corpo somático, indefinidamente. Anos a fio , sentem as impressões terríveis do tóxico que lhes aniquilou as energias , a perfuração do cérebro pelo corpo estranho partido da arma usada no gesto supremo, o peso das rodas pesadas sob as quais se atiraram na ânsia de desertar da vida, a passagem pelas águas silenciosas e tristes sobre os seus despojos, onde procuraram o olvido criminoso de suas tarefas no mundo e , comumente, a pior emoção do suicida é a de acompanhar , minuto a minuto , o processo da decomposição do corpo abandonado no seio da terra , verminado e apodrecido.

De todos os desvios da vida humana o suicídio é , talvez, o maior deles pela sua característica de falso heroísmo, de negação absoluta da lei do amor e de suprema rebeldia à vontade de Deus , cuja justiça nunca se fez sentir , junto aos homens , sem a luz da misericórdia.

O Estranho Mundo dos Suicidas

Frederico Francisco



Freqüentemente somos procurados por iniciantes do Espiritismo, para explicações sobre este ou aquele ponto da Doutrina. Tantas são as perguntas, e tão variadas, que nos chegam, até mesmo através de cartas, que chegamos à conclusão de que a dúvida e a desorientação que lavram entre os aprendizes da Terceira Revelação partem do fato de eles ainda não terem percebido que, para nos apossarmos dos seus legítimos ensinamentos, havemos de estabelecer um estudo metódico, parcelado, partindo da base da Doutrina, ou exposição das leis, e não do coroamento, exatamente como o aluno de uma escola iniciará o curso da primeira série e não da quarta ou da quinta.



Desconhecendo a longa série dos clássicos que expuseram as leis transcendentes em que se firmam os valores da mesma Doutrina, não somente nos veremos contornados pela confusão, impossibilitados de um sadio discernimento sobre o assunto, como também o sofisma, tão perigoso em assuntos de Espiritismo, virá em nosso encalço, pois não saberemos raciocinar devidamente, uma vez que só a exposição das leis da Doutrina nos habilitará ao verdadeiro raciocínio.



Procuraremos responder a uma dessas perguntas, de vez que nos chegou através de uma carta, pergunta que nos afligiu profundamente, visto que fere assunto melindroso, dos mais graves que a Doutrina Espírita costuma examinar. A dita pergunta veio acompanhada de interpretações sofismadas, próprias daquele que ainda não se deu ao trabalho de investigar o assunto para deduzir com a segurança da lógica. Pergunta o missivista:



- Um suicida por motivos nobres sofre os mesmos tormentos que os demais suicidas? Não haverá para ele uma misericórdia especial?



E então respondemos:



- De tudo quanto, até hoje, temos estudado, aprendido e observado em torno do suicídio à luz da Doutrina Espírita, nada, absolutamente, nos tem conferido o direito de crer que existam motivos nobres para justificar o suicídio perante as leis de Deus. O que sabemos é que o suicídio é infração às leis de Deus, considerada das mais graves que o ser humano poderia praticar ante o seu Criador. Os próprios Espíritos de suicidas são unânimes em declarar a intensidade dos sofrimentos que experimentam, a amargura da situação em que se agitam, conseqüentes do seu impensado ato. Muitos deles, como o grande escritor Camilo Castelo Branco, que advertiu os homens em termos veementes, em memorável comunicação concedida ao antigo médium Fernando de Lacerda, afirmam que a fome, a desilusão, a pobreza, a desonra, a doença, a cegueira, qualquer situação, por mais angustiosa que seja,, sobre a Terra, ainda seria excelente condição "comparada ao que de melhor se possa atingir pelos desvios do suicídio".



Durante nosso longo tirocínio mediúnico, temos tratado com numerosos Espíritos de suicidas, e todos eles se revelam e se confessam superlativamente desgraçados no Além-Túmulo, lamentando o momento em que sucumbiram. Certamente que não haverá regra geral para a situação dos suicidas. A situação de um desencarnado, como também de um suicida, dependerá até mesmo do gênero de vida que ele levou na Terra, do seu caráter pessoal, das ações praticadas antes de morrer.



Num suicídio violento como, por exemplo, os ocasionados sob as rodas de um trem de ferro, ou outro qualquer veículo, por uma queda de grande altura, pelo fogo, etc., necessariamente haverá traumatismo perispiritual e mental muito mais intenso e doloroso que nos demais. Mas a terrível situação de todos eles se estenderá por uma rede de complexos desorientadores, implicando novas reencarnações que poderão produzir até mesmo enfermidades insolúveis, como a paralisia e a epilepsia, descontroles do sistema nervoso, retardamento mental, etc. Um tiro no ouvido, por exemplo, segundo informações dos próprios Espíritos de suicidas, em alguns casos poderá arrastar à surdez em encarnação posterior; no coração, arrastará a enfermidades indefiníveis no próprio órgão, conseqÜência essa que infelicitará toda uma existência, atormentando-a por indisposições e desequilíbrios insolúveis.



Entretanto, tais conseqüências não decorrerão como castigo enviado por Deus ao infrator, mas como efeito natural de uma causa desarmonizada com as leis da vida e da morte, lei da Criação, portanto. E todo esse acervo de males será da inteira responsabilidade do próprio suicida. Não era esse o seu destino, previsto pelas leis divinas. Mas ele próprio o fabricou, tal como se apresenta, com a infração àquelas leis. E assim sendo, tratando-se, tais sofrimentos, do efeito natural de uma causa desarmonizada com leis invariáveis, qualquer suicida há de suportar os mesmos efeitos, ao passo que estes seguirão seu próprio curso até que causas reacionárias posteriores os anulem.



No caso proposto pelo nosso missivista, poderemos raciocinar, dentro dos ensinamentos revelados pelos Espíritos, que o suicida poderia ser sincero ao supor que seu suicídio se efetivasse por um motivo nobre. Os duelos também são realizados por motivos que os homens supõem honrosos e nobres, assim como as guerras, e ambos são infrações gravíssimas perante as leis divinas. O que um suicida suporia motivo honroso ou nobre, poderia, em verdade, mais não ser do que falso conceito, sofisma, a que se adaptou, resultado dos preconceitos acatados pelos homens como princípios inabaláveis.



A honra espiritual se estriba em pontos bem diversos, porque nos induzirá, acima de tudo, ao respeito das mesmas leis. Mas, sendo o suicida sincero no julgar que motivos honrosos o impeliram ao fato, certamente haverá atenuantes, mas não justificativa ou isenção de responsabilidades. Se assim não fosse, o raciocínio indica que haveria derrogação das próprias leis de harmonia da Criação, o que não se poderá admitir.



Quanto à misericórdia a que esse infrator teria direito como filho de Deus, não se trataria, certamente, de uma "misericórdia especial". A misericórdia de Deus se estende tanto sobre esse suicida como sobre os demais, sem predileções nem protecionismo. Ela se revela no concurso desvelado dos bons Espíritos, que auxiliarão o soerguimento do culpado para a devida reabilitação, infundindo-lhe ânimo e esperança e cercando-o de toda a caridade possível, inclusive com a prece, exatamente como na Terra agimos com os doentes e sofredores a quem socorremos. Estará também na possibilidade de o suicida se reabilitar para si próprio, através de reencarnações futuras, para as duas sociedades, terrena e invisível; as quais escandalizou com o seu gesto, e para as leis de Deus, sem se perder irremissivelmente na condenação espiritual.



De qualquer forma, com atenuantes ou agravantes, o de que nenhum suicida se isentará é da reparação do ato que praticou com o desrespeito às leis da Criação, e uma nova existência o aguardará, certamente em condições mais precárias do que aquela que destruiu, a si mesmo provando a honra espiritual que infringira.



O suicídio é rodeado de complexos e sutilezas imprevisíveis, contornado por situações e conseqüências delicadíssimas, que variam de grau e intensidade diante das circunstâncias. As leis de Deus são profundas e sábias, requerendo de nós outros o máximo equilíbrio para estudá-las e aprendê-las sem alterá-las com os nossos gostos e paixões.



Assim sendo, que fique bem esclarecido que nenhum motivo neste mundo será bastante honroso para justificar o suicídio diante das leis de Deus. O suicida é que poderá ser sincero ao supor tal coisa, daí advindo então atenuantes a seu favor. O melhor mesmo é seguirmos os conselhos dos próprios suicidas que se comunicam com os médiuns: - Que os homens suportem todos os males que lhes advenham da Terra, que suportem fome, desilusões, desonra, doenças, desgraças sob qualquer aspecto, tudo quanto o mundo apresente como sofrimento e martírio, porque tudo isso ainda será preferível ao que de melhor se possa atingir pelos desvios do suicídio. E eles, os Espíritos dos suicidas, são, realmente, os mais credenciados para tratar do assunto.



Revista Reformador de março de 1964