Para quem pensa cometer um suicídio sem dor, alertamos que o suicida não o fará sem dor, muita dor.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

4 AFIRMAÇÕES PARA UM SUICIDA EM POTENCIAL (II)


SUICÍDIO: 4 AFIRMAÇÕES PARA UM SUICIDA EM POTENCIAL (II)

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Márcio Amaral
Há no suicídio algo de grandioso e terrível...(O suicida)...deve ter caído de muito alto; ter-se elevado até os céus e entrevisto algum paraíso inacessível...Não há um livro sequer que possa se comparar (em poesia) à pequena notícia: "Ontem, às 4 horas, uma mulher moça se atirou ao Sena, de cima da Ponte das Artes" (H. de Balzac, "Pele de Onagro")
1- Contrariamente ao que você pensa, é por um excesso de amor à vida que você está pensando em se matar! Em algum momento da sua existência, com toda a certeza, sonhou com um mundo tão ideal; teve tanto prazer com isso, que não suporta uma vida considerada degradante. É pela idealização da vida que você está pensando em dar fim à sua própria.
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Alguns poderão considerar essas palavras vazias. Já pude testar seu efeito. No minimo, é introduzida uma idéia nova que obriga a pensar. É muito comum que essas pessoas tenham como que "endurecido" e se tornado amargas. Como se sentem muito privadas pela vida, acabam tentando se convencer de que a detestam. É um último auto-engano cometido pela nossa pobre RAZÃO quanto a ter controle sobre os processos em geral. Há que abalar essa convicção. É verdade que alguns conseguem manter, até o fim, uma idealização consciente da vida e culpem apenas a eles mesmos pelo que sentem ser "seus fracassos". Foi o caso do maior poeta português---depois de Camões, é claro---Antero de Quental.
"O suicida ama a vida e, por isso, quando se mata não faz mais do que se rebelar contra uma situação...Não renuncia à vontade de viver, mas às condições de vida" (A. Schopenhauer: "A Vontade de Amar").
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A situação mais expressiva que conheço, nesse sentido, foi a do quase suicida que se atirou do vão central da ponte, há mais de 20 anos. Como manteve a consciência, lutou bravamente por horas para conseguir ficar à flor d'água, apesar das múltiplas fraturas que sofreu.
"Sempre desejada, por mais que esteja errada/...Ninguém que a morte..."(Gonzaguinha, "O Que É, O Que É?")
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"Horrorizei-me diante do abismo que percebi entre o que sou e o que eu queria e teria podido ser" (L. Tostói: "Diário de um Marcador de Bilhar")
2- Você está pensando em dar fim à vida porque forjou para v. mesmo um ideal de vida (ou aceitou aquele que lhe foi sendo incutido pelas pessoas que ama) do qual acha que não conseguiu sequer se aproximar. Há que dele se libertar. Não vivemos sem algum ideal projetado em um futuro*. Essencial, entretanto, é que esses ideais inoculem e encham de vida a própria vida HOJE, em vez de embotá-la. Quando esses ideais se distanciam demais da nossa situação atual---e até de nosso potencial---esmagam-nos, impedindo que desenvolvamos nossas capacidades lentamente. Para as coisas mais importantes da vida, n ão inventaram nada parecido com um "forno de micro-ondas". Tudo tem que ser desenvolvido lentamente, como que em um "forno a lenha". Antes de tudo, lembre-se de que v. tem tempo. Há que se dar um pouco mais de tempo!
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Esse me parece ser o fator essencial e indispensável para os suicídios, desde que excluamos: 1-os "altruistas", segundo Durkheim aqueles que se dão em função dos interesses de uma cultura: homens-bomba, monges que se imolam pelo fogo, greves de fome, e outros; 2- os ditos "racionais", muito frequentes entre médicos que conhecem o calvário que implicam algumas doenças. Freud teria a ele recorrido com a ajuda de seu médico e muitas gotas de opiácio. Para todos os outros, inclusive em situações de psicose, esse elemento de conflito aparentemente insanável entre ideal do eu esituação real de vida parece-nos desempenhar papel nuclear. Essa é a principal "bomba a desarmar", uma vez entranhada no aparelho psíquico dos suicidas em potencial.
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Nesse processo, não me canso em tentar abalar os velhos valores de gerações anteriores, aparentemente muito elevados, mas que se voltaram contra os seres muito humanos: "Qualquer 'virtude' que não seja humana, volta-se contra os homens" ("Assim Falava Zaratustra"). Nada é mais perigoso para uma pessoa do que tentar se "aproximar dos anjos", despindo-se de todos os assim chamados "maus sentimentos":
"Esta ausência de todo interesse vil, capaz de operar uma inversão nos sentimentos nessas ocasiões, é uma das punições que o Céu parece ter prazer em infligir às almas depuradas" (Stendhal, "Armance").
"Têm qualquer coisa de anjo esses suicidas voadores/Qualquer coisa de anjo que perdeu as asas" (M. Quintana)
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Essa é a razão pela qual não me canso de dizer que o problema da humanidade não é o risco do INFERNO, mas o próprio CÉUem si. No momento em que "inventaram um céu muito ideal", atiraram quase toda (senão toda) a humanidade em algum "inferno": seja o da abstinência e conflito com a própria natureza de cada um (mais frequente nos mosteiros e conventos, mas também presente na vida do dia a dia); seja no sentimento de culpa (e sensação permanente de estar em dívida), daqueles que foram chamados: "ovelhas negras" (que beleza deve ter uma ovelha negra!), boêmios, vagabundos, "urubus malandros", ciganos..!
Continua.......
*Nunca me convenceram frases ocas falando em "aqui e agora" como se o presente estivesse desligado do passado e do futuro. Vivemos projetando e dando continuidade! Aliás não somente a nós mesmos, mas a toda a história da humanidade e---por que não dizer?---da Terra. A questão essencial é a assinalada: 1-Estão nossos projetos para o futuro nos enchendo de vida HOJE, ou nos paralisando? 2-Nosso olhar para o passado está fornecendo bons instrumentos para que lidemos melhor com a vida HOJE, ou estamos como que aprisionados nele e pelos valores e deformações de nossos antepassados?

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