A morte do músico Luiz Carlos Leão Duarte Junior, o Champignon, baixista da banda Charlie Brown Jr., na madrugada desta segunda-feira (9) levanta a polêmica sobre o tema suicídio. Segundo último levantamento do Datasus, bando de dados do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2010, foram 9.448 óbitos por suicídio no País, número 95% superior em relação à pesquisa feita em 1990.
Na pesquisa do Datasus, os homens lideram o índice de óbitos por suicídio, independente da faixa etária. No entanto, os brasileiros na faixa de 30 a 39 anos de idade dispararam de 795 casos em 1990 para 1.607 em 2010. Já a quantidade de suicídios entre mulheres na mesma faixa etária foi bem menor em 20 anos: de 242 casos em 1990 para 389 em 2010.
Outra faixa etária que chama atenção na pesquisa é a de adolescentes, entre 15 e 19 anos. O levantamento do SUS apontou aumento de 60% de aumento no período, com 605 vítimas em 2010.
Para o CVV (Centro de Valorização da Vida), é preciso derrubar tabus e destacar a importância de falar sobre o assunto que envolve, em média, 25 brasileiros vítimas de suicídio por dia. Com essa premissa, a instituição promoveu nesta terça-feira (10), o 2º Seminário de Prevenção do Suicídio, exatamente no Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.
Realizado no Centro de Capacitação dos Profissionais da Educação (Cecape) "Dra.Zilda Arns", de São Caetano, o encontro aberto ao público contou com a participação de importantes agentes no trato do suicídio, que contribuíram com informações para a população ajudar a reduzir o número de casos no Brasil.
Sinais
Carlos Correia, voluntário do CVV, conta que todas as pessoas que pensam em suicídio transmitem sinais. "Eles podem ser percebidos por quem está em volta e, com o acolhimento, o sentimento negativo é superado e o tratamento direcionado", apontou o voluntário do CVV, que oferece trabalho de apoio emocional gratuito por telefone, chat ou pessoalmente a qualquer cidadão.
Flávia Ismael, coordenadora do Pronto-Socorro Psiquiátrico de São Caetano, contou que não existe perfil padrão do suicida, mas um agrupamento de fatores que sinalizam maior tendência, como faixa etária, sexo, doenças mentais e, principalmente, perdas em geral. "O suicídio é o pior desfecho da psiquiatria, que trabalha preventivamente para evitar o sentimento depressivo, além de acompanhar aqueles que estão envolvidos com o paciente, pois é papel de quem está em volta abordar o assunto", afirmou.
Sobre o fato de os adolescentes se destacarem, e muito, na lista de casos de suicídio no Brasil, a psiquiatra Flávia Ismael explica que as constantes pressões para que o jovem siga determinados padrões é um dos principais fatores. "Na maioria dos casos, o distanciamento e a apatia sinalizam um comportamento que deve ser analisado preventivamente", afirmou.
A tenente Adriana de Moraes Zuppo, do Corpo de Bombeiros de São Caetano, diz que o processo para convencer a pessoa a não concluir a tentativa de suicídio é demorado. "Cria-se um vínculo com o bombeiro e o acompanhamento deste indivíduo é fundamental para que a ocorrência não regrida", comenta.
De acordo com o CVV, vários motivos podem levar alguém ao suicídio. Geralmente, a pessoa tem necessidade de aliviar pressões externas, como cobranças sociais, culpa, remorso, depressão, ansiedade, medo, fracasso e humilhação.
Para saber mais sobre o trabalho do CVV, presente em São Caetano, Santo André e São Bernardo, acesse www.cvv.org.br.
Ouvir ajuda vítima sair da crise
Segundo o CVV, o suicídio continua sendo um tabu. É preciso deixar de ter medo de falar sobre o assunto e compartilhar informações ligadas ao tema, assim como já ocorreu com as doenças sexualmente transmissíveis ou câncer, cuja prevenção se tornou bem-sucedida, porque as pessoas passaram a dominar o assunto.
Outra informação importante é que as vítimas sempre pedem socorro quando o suicídio parece uma saída. A vontade de viver conflita com o desejo de se autodestruir. Encontrar alguém que tenha disponibilidade para ouvir e compreender os sentimentos suicidas fortalece a intenção de viver.
O CVV ressalta que a sociedade precisa perder o medo de se aproximar das pessoas e oferecer ajuda. A pessoa que está em crise se sente sozinha e isolada. A recomendação é perguntar "tem algo que eu possa fazer pra te ajudar?". Nessa hora, ter alguém para ouvir a vítima pode fazer toda diferença. "E qualquer um pode ser esse ombro amigo, que ouve sem fazer críticas ou dar conselhos. Quem decide ajudar não deve se preocupar com o que vai falar. O importante é estar preparado para ouvir", ensina o CVV.
(Colaborou Iara Voros)
http://www.reporterdiario.com.br/Noticia/420143/brasil-tem-25-suicidios-por-dia/
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