Para quem pensa cometer um suicídio sem dor, alertamos que o suicida não o fará sem dor, muita dor.

domingo, 17 de junho de 2012

SUICÍDIO - UMA FUGA SEM NORTE, SEM SENTIDO, SEM RAZÃO


Em julho de 1862, Kardec analisa uma estatística estarrecedora e publica na Revista Espírita que “desde o começo do século XIX, o número dos suicídios na França, de 1836 a 1852, era de 52.126 suicídios, ou seja em média 3.066 por ano. Em 1858, contaram-se 3.903 suicídios, dos quais 853 mulheres e 3.050 homens. Enfim, segundo a última estatística no curso do ano de 1859, 3.899 pessoas se mataram, a saber, 3.057 homens e 842 mulheres."(1)
Atualmente, como se não bastasse o inquietante “Dia Nacional de Prevenção ao Suicídio”, a Justiça francesa está investigando a onda de suicídios na operadora de telefonia France Telecom. Nos últimos anos, 46 funcionários da companhia se mataram – 11 deles apenas em 2010, segundo dados da direção da empresa e dos sindicatos. Infelizmente, é exatamente nos países ricos, em que a ambição e o materialismo se acentuam, onde sobressaem os preconceitos, que o número de óbitos por suicídio é mais aterrorizante. Segundo estimativa dos estudiosos, alguns países do Velho Continente carecem de um “plano nacional para a prevenção de suicídios”, pois é ameaçador o número de mortes auto-infligidas.
Kardec escreveu que o suicídio é contagioso – “o contágio não está nem nos fluidos nem nas atrações; ele está no exemplo que familiariza com a ideia da morte e com o emprego dos meios para que ela se dê; isto é tão verdadeiro que quando um suicídio ocorre de uma certa maneira, não é raro ver vários deles do mesmo gênero se sucederem.”(2) Quinze anos antes da Revolução Francesa, o lançamento do livro “Werther”, do poeta alemão Goethe, provocou uma onda de suicídio na Europa. “Romeu e Julieta, criação de Shakekspeare, assim como tantos Romeus e Julietas da vida real, se matam para vingar-se de seu ambiente e das pessoas que estão ao seu redor”(3)
Albert Camus, em “O Mito de Sísifo”, defende a tese de que só existe um problema filosófico realmente grave: o suicídio - Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder a questão de filosofia.(!?) Que o abonem os escritores Artur Shopenhauer em “As Dores do Mundo”, que induz seu leitor invigilante ao suicídio, e Friedrich Wilhelm Nietzsche, que escreveu em “Assim Falava Zaratustra”, que orar é vergonhoso, afirmando que “a ideia do suicídio é uma grande consolação: ajuda a suportar muitas noites más.”(!?)
O suicídio é uma ação unicamente humana, e está presente em todas as civilizações. Suas matrizes originais são abundantes e intricadas. Algumas pessoas (re)nascem com certas desordens psiquiátricas, tal como a esquizofrenia e o alcoolismo, o que obviamente acresce o risco de suicídio. Os determinantes do autocídio patológico estão nas ansiedades mentais, desesperanças, desgostos, intranquilidades emocionais, alucinações recorrentes. Podem estar vinculados a falência financeira, vergonha e mácula moral, decepções amorosas, depressão, solidão, medo do futuro, soberba pessoal (recusa a admitir o fracasso) ou exacerbado amor próprio (acreditar que sua imagem não possa sofrer nenhum arranhão ou ferimento). Mas cremos que a exata causa do suicídio não está nas ocorrências infelizes em si, todavia na atitude como a pessoa cede diante do desgost o.
Há autoextermínios por ideias fixas, realizados fora do império da razão, como aqueles, por exemplo, que ocorreram na psicose, na embriaguez; aqui a causa é meramente fisiológica; mas paralelamente “se encontra a categoria, muito mais numerosa, dos suicídios voluntários, realizados com premeditação e com pleno conhecimento de causa.”(4) O Codificador indagou aos espíritos – “que pensar do suicídio que tem por causa o desgosto da vida?”. Os Benfeitores responderam: "Insensatos! Por que não trabalhavam? A existência não lhes seria uma carga!"(5)
Há dois milênios Jesus disse: “Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados”.(.6) Mas como compreender a conveniência de sofrer para ser feliz? Por que uns já (re)nascem abastados e outros na miséria, sem nada haverem feito (na atual existência) que justifique essas posições? “A certeza da imortalidade pode confortar e gerar resignação, contudo não elucida essas aberrações, que parecem contradizer a justiça Divina. Se Deus é soberanamente bom e justo, não pode agir caprichosamente, nem com parcialidade. Logo, as vicissitudes da vida derivam de uma causa e, pois que Deus é justo, justa há de ser essa causa.”(7)
Na Terra, é preciso ter tranquilidade para viver e conviver, até porque não há tormentos e problemas que perdurem uma eternidade. Lembremos que a vida não assenta em nossos ombros fardos mais pesados que nossos limites de carregá-los. A calma e a resignação hauridas da maneira de avaliar a vida terrestre e da certeza no futuro “dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio.”(8) Porém, a incredulidade, a simples suspeição sobre o futuro espiritual, as opiniões materialistas por fim, são os grandes incitantes ao suicídio e ocasionam o acovardamento moral.
Os Benfeitores Espirituais advertem que o suicídio é comparável a alguém que pula no escuro sobre um despenhadeiro de brasas. Após a morte, descrevem os espíritos , advém ao suicida a sede, a fome, a friagem ou o calor insuportável, o cansaço, a insônia, os irresistíveis desejos impudicos, a promiscuidade e as tempestades com constantes inundações de lamas fétidas. E pior, aos que fogem da luta, lembramos que adiar dívida moral significa reencontrá-la mais tarde (pela reencarnação) com juros somados com cobrança sem moratória.
A Terceira Revelação comprova através das comunicações mediúnicas a posição desventurada com que deparam os suicidas e comprova que nenhuma pessoa infringe impunemente a lei de Deus. O espírita tem, assim, vários motivos a contrapor à ideia do suicídio: a confiança de uma vida futura, em que, sabe-o ele, será de tal maneira mais venturosa quão mais infeliz e abdicada tenha sido na Terra.
É vero! O suicídio é uma porta falsa em que o indivíduo, avaliando alforriar-se de seus incômodos, desmorona em circunstância extremamente mais arruinada. Precipitado violentamente para o Além-túmulo, repleto de fluido vital no corpo aniquilado, revive, continuamente, por longo tempo, os espicaces de consciência e sensações dos últimos momentos, além de permanecer debaixo de penosa tortura, aprisionado aos despojos carnais sob a própria tumba. Como se ainda não bastasse, permanecerá na dimensão espiritual submerso em regiões de penumbras, onde seus martírios serão tenazes, a fim de aprender na dor pungente a respeitar a vida com mais empenho noutras oportunidades reencarnatórias.
Portanto, “a certeza de que, abreviando a vida, chega justamente a um resultado diferente daquele que espera alcançar; que se livra de um mal para ter um pior, mais longo e mais terrível, que não reverá, no outro mundo, os objetos de sua afeição, que queria ir reencontrar; de onde a consequência de que o suicídio está contra os seus próprios interesses. Também o número de suicídios impedidos pelo Espiritismo é considerável, e se pode disso concluir que quando todo o mundo for espírita, não haverá mais suicídios voluntários, e isso chegará mais cedo do que se crê.”(9)
Sabemos que a prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é preciso tenha por base uma fé viva na bondade do Criador. Destarte, quando nos advenha uma causa de sofrimento ou de contrariedade, urge sobrepor-se a ela, e, quando houvermos conseguido dominar os ímpetos da impaciência, da cólera ou do desespero, devemos dizer, cheios de justa satisfação: "Fui o mais forte."(11)
Ante o impositivo da Lei da fraternidade, precisamos orar pelos nossos irmãos que deram fim às suas vidas, apiedando-nos de suas dores, sem condená-los.

Jorge Hessen
http//jorgehessen.net

Referências bibliográficas:
(1)Análise sobre Estatística dos suicídios que  Kardec fez  do livro “Comédie sociale au dix-neuvième siècle” , autoria de B. Gastineau, publicado na Revista Espírita, julho de 1862
(2)Idem
(3)Disponível em http://www.espirito.org.br/portal/artigos/geae/argumentos-suicidio-...
(4)Análise sobre Estatística dos suicídios que  Kardec fez  do livro “Comédie sociale au dix-neuvième siècle” , autoria de B. Gastineau, publicado na Revista Espírita, julho de 1862
(5)Kardec , Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 2001, perg. 945
(6)Lc. VI, vv. 20 e 21
(7) Kardec , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed FEB, 2006, cap V
(8)Idem
(9)Análise sobre Estatística dos suicídios que  Kardec fez  do livro “Comédie sociale au dix-neuvième siècle” , autoria de B. Gastineau, publicado na Revista Espírita, julho de 1862
 (10) Kardec , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed FEB, 2006, cap V

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Suicídio estatística OMS - tribuna

Publicada: 23/07/2011 02:16| Atualizada: 23/07/2011 01:14 Catiane Magalhães A cada minuto, duas pessoas se suicidam no mundo. Por dia, são aproximadamente três mil que tiram a própria vida. Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo o Órgão, o Brasil ocupa o 73º lugar no ranking dos que registram o maior percentual de casos. Entretanto, considerando números reais, o país avança 64 casas, alcançando a 9ª colocação. Aqui, a média diária é de 25 mortes provocadas, ou seja, pouco mais de nove mil por ano. Os números, apesar de relativamente baixos, se comparado a outros países, cujos índices são alarmantes, como o Japão, Eslovênia, Rússia, Hungria, Canadá e Grécia, já preocupam, pois crescem a cada ano. Na última década, a taxa de suicídio aumentou mais de 17% entre os jovens de 15 a 24 anos, e 20% entre a população com mais de 60 anos. A pesquisa revela um dado ainda mais alarmante: para cada suicídio cometido, são registrados, no mínimo, 20 tentativas frustradas. Para cada tentativa mal sucedida, outras cinco pessoas estão planejando pôr fim à própria vida e outras 17 já pensaram ou pensam seriamente em se matar. O que pouca gente sabe é que tragédias assim podem ser evitadas. Há quase 50 anos, o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta ajuda a pessoas com todo o tipo de problemas, sobretudo as com tendência suicida, nas capitais e principais cidades do país, totalizando 70 postos em várias regiões do Brasil. Sem cunho religioso ou político, o CVV atende 24 horas por dia, sete dias por semana, inclusive nos feriados. Um grupo de profissionais voluntários trabalha com a prevenção do suicídio, através da valorização da vida. Os profissionais ouvem os problemas e fazem aconselhamentos fundamentados na psicologia e filosofia. Em Salvador, uma unidade funciona na Rua do Bângala, na Moraria, com atendimentos presenciais de segunda à sexta, das 8 às 18 horas; e virtuais, 24 horas, todos os dias, através dos telefones 3322-4111 ou 141, além de respostas a e-mails e bate-papo por chat. Apesar da pouca divulgação, o grupo tem uma procura razoável e chega a fazer, em média, 1.500 atendimentos, entre presenciais e por telefone. Esse número é bem maior se contabilizadas às correspondências respondidas.  “As pessoas vivem tão atribuladas, sempre com tanta pressa, que não se dispõem a ouvir a outra. É o que eu costumo chamar de solidão em grupo, ou seja, é quando o indivíduo vive cercado de gente, mas se sente sozinho.   Quando a pessoa nos procura é porque não está mais aguentando e, na maioria dos casos, ouvimos algo que jamais foi dito para alguém, nem mesmo à família. Isso demonstra como as relações andam superficiais. As pessoas não se doam; não se ajudam”, disse a coordenadora e voluntária do CVV, Soraia Coelho. Segundo ela, o surgimento das redes sociais contribuiu para o aumento da solidão em grupo. “Agora, a moda é ‘colecionar’ amigos e seguidores, com quem, na maioria das vezes, o indivíduo não se relaciona ou, ao menos, conversa na vida real. São amizades vazias ou pseudorelacionamentos”, ressalta. Em contrapartida, essa carência faz aumentar a procura por instituições de ajuda, a exemplo do CVV, onde todas as informações são mantidas em absoluto sigilo. As vítimas não precisam se identificar e os voluntários também mantêm o anonimato. Toda informação ouvida não é comentada nem entre os profissionais da entidade. “Não sabemos quem está do outro lado da linha, do mesmo modo que eles não sabem quem somos, mas mantemos uma relação de confiança um pelo outro”, salienta Soraia. De acordo com ela, o trabalho dos voluntários da CVV já impediu várias tragédias. “A gente só encerra o diálogo, seja pessoalmente ou por telefone, depois que conseguimos proporcionar alguma melhora no outro. É impossível estabelecer números, mas temos a consciência de que ajudamos muitas pessoas à beira da loucura. Prova disso é a quantidade de ligações de agradecimento que recebemos”, comenta. Motivos do desespero  Sobre os motivos que levam uma pessoa a suicidar-se, a coordenadora do CVV disse que não existe uma fórmula. Além disso, as razões variam de acordo com a faixa etária. Entre os mais jovens, as causas mais prováveis são: desilusão amorosa, fim de relacionamento, gravidez precoce e o uso de álcool e drogas.   Entre os mais velhos, o transtorno de bipolaridade, endividamento, perda de emprego são os supostos motivos. A maioria dos atentados à própria vida está diretamente ligada à depressão, que pode ser desencadeada por um ou a soma de vários desses problemas. “Não podemos dizer que todo suicida é depressivo, mesmo porque existe uma diferença grande entre depressão e tristeza. O que há é diferentes formas de enfrentar os problemas. Tem pessoas que sabem contornar. Outras, não. A maneira como lidar com o acúmulo faz toda diferença”, pontua. Curso para voluntários  – Criado por um grupo de 17 amigos, no início da década de 60, com o intuito de reduzir a taxa de suicídio, o CVV atualmente conta com o trabalho de 30 voluntários, que se revezam em esquema de plantão, 24 horas por dia. O grupo que oferece ajuda às pessoas, agora pede ajuda para continuar se mantendo. “Precisamos de mais colaboradores para dá sequência aos trabalhos. Por isso, ministraremos, nos dias 13 e 14 de agosto, o curso preparatório para voluntários”, a coordenadora da entidade, ressaltando que qualquer pessoa maior de 18 anos pode se candidatar.